Titina

Por GN em

Titina, sem data. Foto: Marlene Nobre

Albertina Alice dos Santos Rodrigues
Oliveira de Almeida

Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, 1947 – Setúbal, Portugal, 2022

Cantora

Titina canta desde muito cedo, e ainda criança já conhecia de perto a música brasileira, que o pai admirava. Certo dia, um vizinho que era dirigente do clube Castilho ouviu-a ao passar em frente à casa da família e convidou-a a cantar num espetáculo do clube, a se realizar no cinema Eden Park. Titina tinha 12 anos. Autorizada a participar, interpretou um tema da cantora brasileira Ângela Maria e mornas. Nessa altura, a koladera ganhava força e nesses dois géneros ícones de Cabo Verde a cantora traçou o seu repertório desde então.

Aos 14 anos, realizou nos estúdios da Rádio Barlavento a sua primeira gravação que aparece em disco: a koladera “Estanhadinha” de Frank Cavaquinho, num EP com outras três músicas na voz de Djosinha e que embora tenha o título Mornas de Cabo Verde, só traz koladeras. É um dos discos de 45 rotações da série editada pela Casa do Leão nesses finais da década de 1950 e início dos anos 1960. Por essa época, a jovem atuava também na rádio. “O programa era feito com Evandro Matos, diretor da Rádio Clube do Mindelo. Frank Cavaquinho estava sempre a compor, praticamente todas as semanas tínhamos músicas novas. Ele ia à minha casa, ensaiávamos, e à quinta-feira íamos para a rádio. Não era gravado, começávamos a cantar e era em direto”, relata.

“Koladera para mim é como se estivesse a contar uma anedota
a um amigo. É maliciosa, é preciso dar uma determinada
ênfase em certas frases.”

Titina, em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens

Certa ocasião, num sarau durante a visita a São Vicente do então ministro do Ultramar, Adriano Moreira, este, que já estava entusiasmado com a música cabo-verdiana, propôs que se formasse um grupo para atuar em Portugal. Criou-se então, em poucos dias, o Conjunto de Cabo Verde, que percorreu Portugal durante um mês e gravou três discos. O grupo regressou à base, mas Titina ficou. Gravou três 45 rpm com acompanhamento de Marino Silva, atuou em programas de televisão e algum tempo depois voltou para Cabo Verde. Passado algum tempo, casou-se com um português que vivia em São Vicente e desde o seu regresso a Portugal Titina vive nesse país.

Em finais da década de 1970 grava um EP com acompanhamento do Voz de Cabo Verde e arranjos de Paulino Vieira. Cerca de uma década depois é que sai o LP Titina canta B.Léza, em que a cantora interpreta unicamente músicas de B.Léza, compositor que conheceu ainda na sua infância. Este álbum foi reeditado em LP e depois mais duas vezes, em CD. Mais uma longa pausa em termos de álbum a solo, mas entretanto Titina participou nos discos Cabo Verde canta a CPLP, Música de intervenção cabo-verdiana e Lisboa nos cantares cabo-verdianos, projetos temáticosdo produtor Alberto Rui Machado, que em 2008 produziu o CD que Titina lançou com o título Destino cruel.  

Em 1991, Titina teve uma participação na série televisiva Por mares nunca dantes navegados, realizada por Carlos Avilez para a RTP. Na TV participou também no programa A língua Viva (2001) daRTP, dirigido aos PALOP com o objetivo de ensinar a língua portuguesa. No teatro, em 1996 participou em O Último Baile do Império, produção da companhia portuguesa A Barraca com encenação de Maria do Céu Guerra, a partir de texto do brasileiro Josué Montello. Depois de interpretar canções brasileiras do século XIX, a cantora encerra a peça com uma guisa.

Discografia

  • Mornas de Cabo Verde, EP, Casa do Leão, São Vicente, 1960. Com Djosinha.
  • Mornas, single, [?], Lisboa, [déc. 1960]. Com o conjunto de Marino Silva.
  • Titina, EP, Alvorada, Porto, 1963. Acompanhada pelo Conjunto de Marino Silva.
  • Titina, EP, Alvorada, Porto, 1966. Acompanhada pelo Conjunto de Marino Silva.
  • Titina, EP, DMC, Lisboa, 1979. Com Voz de Cabo Verde.
  • Titina canta B. Léza, LP, Discos Porto Grande, Setúbal, 1988. Reedições em CD: Lusafrica, (?); Sonovox, 1993; Sterns Africa, 2013).
  • Destino cruel, CD, Astramusic, Lisboa, 2008.  
  • Portrait – Uma vida a cantar Cabo Verde (compilação), Network Medien/Membran Media, 2012.
  • Participação vocal em dois dos EP do Conjunto de Cabo Verde: Folclore de Cabo Verde e Conjunto Cabo Verde (ambos em 1962).
  • Participação nos volumes 2 e 3 da série de CD Música de intervenção cabo-verdiana (1999), com o tema Hitler”; e no volume 4, nos temas  “Apocalypse” e “Cumpade Ciznone”.
  • Participação no CD Lisboa nos cantares cabo-verdianos (2001) com os temas “Bejo di sodade”,Trás d’horizonte”, “Grandeza”,Mensagem Creoula”,Agora e abol” eLisboa capital de sodade”.
  • Participação no CD Cabo Verde canta a CPLP (2002), com os temas “Sina de Cabo Verde”, “Angola (Landin)” e Lisboa Capital di sodade II”.
  • Participação no CD Chuva e água doce nas melodias cabo-verdianas (2008), com o tema “Sina de Cabo Verde”.
  • Participação na compilação Seleção de Cabo Verde 80 (1980), com os temas “Minininha de Salamansa”, “Sodade di bô” e “Tchutchinha”.
  • Participação na compilação Mornas/Coladeras Cabo Verde (1984), com os temasMama na bode” e “Funha” (do EP de 1966).
  • Participação na compilação Cap Vert: Anthologie 1959-1992 (1993), com o tema “Tanha”, do EP Titina.

Ver e ouvir

error: Content is protected !!