Ritmos Cabo-Verdianos
Grupo, 1964 – 1969
Os irmãos Marques da Silva – Tony (piano), Lulu (acordeão) e Djosa (bateria) – já vinham tocando juntos desde os anos 1950, mas é a partir de 1963 que começam a aparecer referências ao nome Ritmos Cabo-Verdianos. Em abril desse ano, o grupo desloca-se a Dacar para uma série de apresentações e bailes para a comunidade cabo-verdiana (O Arquipélago, 25.04.1963).
Um ano depois, toca na inauguração do Café Royal, no Mindelo (O Arquipélago, 09.04.1964). Alguns meses mais tarde, com a entrada de Humbertona e Jack Felícia e a aquisição dos respetivos guitarra e baixo, além de um amplificador deixado por um emigrante, o grupo surge como uma das primeiras formações cabo-verdianas com instrumentos elétricos. Era um grupo instrumental, que pontualmente convidava vocalistas para as suas atuações, caso de Manecas Matos, Arminda Sousa, Longino Baptista e Milú Évora, esta última filha de Tututa.
Em 1965, o grupo mobiliza-se, como os outros da altura – Centaurus e Mindel’s – para a seleção de um representante do arquipélago ao concurso de ié-ié organizado em Lisboa pelo Movimento Nacional Feminino, a favor das forças armadas que combatem no Ultramar (O Arquipélago, 19.08.1965). É o rock and roll a chegar ao império colonial português – o termo yé-yé (França), ou iê-iê-iê (Brasil), surge a partir da expressão yeah, yeah, yeah, presente em algumas canções dos Beatles, segundo o site Wikipedia. Ritmos Cabo-Verdianos é o escolhido para representar Cabo Verde no festival realizado no cinema Monumental, em Lisboa, em maio de 1966.
“Não sabíamos nada de ié-ié em São Vicente. Quando chego a Portugal é que vou ouvir o ié-ié do Roberto Carlos”, relata Longino, quase 40 anos depois (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens). O grupo não ganha o concurso (Os Rocks, de Angola, é que saem vencedores), e nem sequer chega a tocar qualquer coisa que se pareça com ié-ié. Um artigo publicado n’O Arquipélago, depois de elogiar os rapazes cabo-verdianos por não se terem “idiotamente crismado de ‘Stars’, de ‘Rocks’ ou de ‘Sheiks’”, relata a frieza inicial do público ao ouvir uma morna e a sua reação entusiasmada ao tema seguinte, uma contagiante koladera: “E então, como por encanto, ninguém se lembrou mais do `ié-ié’”, escreveu Zorro, autor do texto n’O Arquipélago (19.05.66).
O grupo aproveita a estada em Lisboa para gravar o seu único disco e volta para São Vicente sem o guitarrista – Humbertona segue para a Bélgica, onde vai estudar. Baptista Dias, Armando Tito e Chico Serra têm passagens rápidas pelo grupo que, depois de perder também Tony Marques da Silva, que emigra para os EUA, finalmente se desfaz.
A última notícia n’O Arquipélago sobre o grupo dá conta de que o Carnaval de 1969 no Mindelo foi animado pelo Voz de Cabo Verde e pelo Ritmos Cabo-Verdianos. Não se conseguiu apurar quem eram os membros nessa altura, mas a sua época mais ativa já ficara para trás, situando-se entre a segunda metade de 1964 e maio de 1966.
Discografia
Ritmos Cabo-Verdianos, EP, e/a, São Vicente, 1967.