Rabolo
São Jorge, Fogo, [início séc. XX] – [?]
Instrumentista (cordas), compositor
Personagem da ilha do Fogo, Rabolo foi um músico cuja alcunha acabou por dar nome a uma música que por sua vez ganhou várias letras diferentes, fazendo parte do repertório tradicional desta ilha. Tio-avô de Agusto Cego, este informa: “Esse homem, seu nome era Papazinho mas no campo musical ficou Rabolo. Ele compôs uma música – uma mazurca – que todo mundo, quando a tocava, dizia ‘música de Rabolo’. Conheci-o por volta dos meus 10, 11 anos”, refere o artista, acrescentando: “Tocava violino, guitarra de 10 cordas, guitarra de seis cordas. Ele executava bem mesmo” (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens).
Num artigo no Voz di Povo (28.02.1987), Miguel Alves, memorialista da ilha do Fogo, informa que Rabolo terá chegado à ilha entre 1920 e 1925, regressado da emigração nos EUA. A alcunha de Rabolo, que ele próprio escolheu para si, tem o significado, segundo este autor, de “rebolo, engenho que serve para amolar instrumentos cortantes, muito usado pelos carpinteiros”. “Aquela alcunha pegou como o visgo, pois o que ele queria dizer com isso é que ele era rápido, perfeito, na execução dos seus atos, das suas diligências, das suas decisões… Todo o povo da ilha, a partir daí, passou a chamá-lo de ‘Rabolo di Nha Culelé’ sendo esta última a alcunha por que era conhecida a mãe dele”, escreve Alves, afirmando que a música que ele compôs, em Campanas, propagou-se rapidamente por toda a ilha, fazendo furor. Nos dias de festa de bandeira (São Filipe, São João, Santo Pedro, São Sebastião), após as corridas de cavalos, quando à tardinha os tamboreiros regressam às suas casas, diz Alves, “rufavam no tambor aquela música numa toada interessante, empolgante”, enquanto as koladeras iam cantando a música de Rabolo, que costumava ser também executada ao violino, acordeão, gaita de boca e instrumentos de corda diversos.
Por outro lado, segundo Fausto do Rosário (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens), em meados dos anos 1950 o poeta e compositor Mário Macedo Barbosa escreveu uma música que intitulou Rabolo, lamentando não poder estar presente à festa de São Filipe, cujos primeiros versos dizem: Sim pode rabolaba/Djam sta na Djarfogo/N ta da nhos palavra/N ta ganha corrida… (Se rebolasse/ estaria na Ilha do Fogo/Dou-vos a minha palavra/ Ganharei a corrida). É esta a letra gravada por Celina Pereira e por Neuza. Utilizando a mesma melodia, outros “rabolos” foram feitos. O grupo Rabasa gravou uma versão no seu disco Rabasa – Música de Cabo Verde. Por sua vez, Antero Simas intitula um tema seu, uma mazurca, “Rabolo di mi cu Maria”, também gravada por Neuza.
Ainda segundo Miguel Alves, passados cerca de dois ou três anos do aparecimento da música “Rabolo”, uma outra mazurca, “Iote”, é dada a conhecer, esta com letra a puxar para o picante, da autoria de um homem também da localidade de Campanas. Esta letra terá sido cantada na melodia de Rabolo, mas segundo o autor são duas músicas distintas, ambas mazurcas. “Iote Pingo d’Oru”, por sua vez aparece no CD de Minó di Mamá, na voz de Bebé (Isabel Teixeira).
Gravações de rabolos
Festa São Filipe; Rabolo (versão de Mário Macedo Barbosa).
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