Olavo Bilac

Por GN em

Olavo Bilac Vasconcelos Gomes

Mindelo, São Vicente, 1926 – Mindelo, São Vicente, 1969

Instrumentista (violão), compositor

Compositor de algumas mornas bastante conhecidas, que começam a ser gravadas ainda em finais dos anos 1950. É o caso da morna “Janela”, que Maria da Luz gravou em Portugal, num EP de 1959. O tema terá sido composto em 1952, quando numa visita a Santo Antão o compositor sentiu-se inspirado pela localidade de Janela (município do Paul) e imediatamente criou letra e música, o que lhe reservou lugar no CD que 43 anos depois Homero Fonseca gravou só com músicas que falam de Santo Antão. A koladera “Tra tra tra”, por sua vez, encontra-se num dos primeiros EP de Bana.

Não confundir com Olavo Bilac filho de Pedro Cardoso, que publicou poemas dispersos. Bilac instrumentista e compositor percorria a cidade do Mindelo nos anos 1940, em serenatas, fazendo parte do círculo de B.Léza. Foi por influência sua que Djosinha começou a cantar, ainda criança – “Ele ia buscar-me à casa da minha mãe para cantar para as namoradas dele”, recordou o cantor em entrevista a Teresa Sofia Fortes (www.asemana.cv, maio 2004). Também Manuel d’Novas referia-o como uma influência sua, segundo Francisco Sequeira, responsável dos arquivos da RCV em São Vicente. “Era um poeta do povo”, recorda Onésimo Silveira (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens), que é principal fonte de informações sobre este artista.

Nos últimos anos de vida do músico, quando se encontrava doente, Silveira organizou um sarau cultural cuja renda reverteria em seu benefício. Desse evento dá conta a imprensa da época: “Um grupo de artistas e amigos vão levar a efeito uma festa cujo produto se destina a auxiliar o artista Bilac a seguir até Lisboa para tratamento. A iniciativa partiu do poeta nosso conterrâneo Onésimo Silveira” (O Arquipélago, 17.10.1963). Produziu-se para distribuição durante a sessão uma brochura com a letra de sua morna “Distino Negro”, incluindo um comentário de Baltasar Lopes da Silva sob o título “O troveiro e o mundo”, que Manuel Ferreira reproduz no seu livro A Aventura Crioula (1985). No texto, Baltasar Lopes da Silva faz uma análise dos versos que falam de uma vida de sofrimento e tortura, sem consolo.

“O tempo viria a provar que podíamos derrotar a PIDE, mas não a tuberculose do nosso amigo, incorrigível seresteiro que recordo com particular saudade.”

Fátima Bettencourt sobre Olavo Bilac, no jornal Horizonte, 07.06.2002.

Tuberculoso e alcoólico, Bilac compôs, segundo Onésimo Silveira, uma música falando da sua situação, isolado num quarto do hospital – o título seria algo como “Quartim dum porta só” – até viajar para Portugal, o que aconteceu em finais de janeiro de 1964 (O Arquipélago, 30.01.1964). Aí, “fica num sanatório e volta depois de algum tempo, recuperado, mas o alcoolismo leva-o à decadência e morte”, afirma Silveira. Bilac morreu cinco anos depois, e a 24.07.1969, na secção “Ronda pelas ilhas” d’O Arquipélago, entre um comentário sobre a emoção causada pela chegada da Apolo 11 à Lua e uma partida de cricket entre o clube Amarante e o Castilho, lê-se em duas linhas: “Foi a enterrar Bilac – Olavo Bilac de Sousa Vasconcelos – autor de várias mornas, com especial relevo para ‘Destino negro’”.

No sarau realizado a 23 janeiro de 1964 e que contou com a presença do governador, agregando a juventude da época e contando com a participação de músicos como os irmãos Tony Marques e Djosa Marques, entre outros, leram-se poemas de Agostinho Neto e outros autores de língua portuguesa, naquilo que acabou por ser também um ato político nesses tempos em que a PIDE já fiscalizava o dia a dia, como recorda Fátima Bettencourt (Novo Jornal Cabo Verde, 01.02.1997): “Fizemos explodir o Eden com poesia contestatária, pelo menos a possível, num afinadíssimo grupo de jograis e declamadores…”. Noutra crónica, a escritora lamenta a perda do amigo devido à doença que o consumia (Horizonte, 07.06.2002).

Composições

Destino negro; Du; Janela (autoria controversa; segundo algumas fontes, autor seria B.Léza); Navio Patrulha Fogo (gravada na Rádio Barlavento por Mité Costa, não editada, trata-se de uma morna dedicada à tripulação de um barco de guerra português de fiscalização marítima nas ilhas nos inícios dos anos 1960); Nhanha; Tra-tra-tra.

Ouvir

Colaborou na pesquisa: Francisco V. Sequeira

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