Kaká Barbosa
Carlos Alberto Lopes Barbosa
Compositor, poeta
Mindelo, São Vicente, 1947 – Praia, Santiago, 2020
Poeta e compositor, Kaká Barbosa é um dos nomes que surgem ligados à música de intervenção que marca o período imediatamente antes e os primeiros anos após a independência de Cabo Verde.
Os seus temas foram gravados pelos dois principais grupos dessa época, Os Tubarões e Bulimundo. A sua produção não se restringe às circunstâncias políticas, mas uma atitude política marca as suas letras, seja pelo olhar crítico ao narrar os primeiros tempos do regime multipartidário, na década de 1990, seja ao transpor para os versos o sentimento do homem do campo face à natureza e à sobrevivência.
“Nha Fé ê fundu sima mar
Nha speransa tem kôr di fodjada
Ma kusas ta toma si lugar
Ó ki agu disponta na labada…”
Kaká Barbosa, em “Kor di Fodjada”
Na Guiné-Bissau, em 1974, marcou-o a música dos Bembeya Djaz, da Guiné-Conacri. Da adolescência na Assomada (o seu nascimento em São Vicente deveu-se a uma transferência temporária do pai, polícia, para aquela ilha) trazia na memória sons que vão de Sinatra e Belafonte aos Beatles, passando pelos sucessos brasileiros da altura. E a morna. “Nunca o funaná. Uma vez ou outra uma koladera, mas o forte, lá em Santa Catarina, eram mornas e sambas”, dizia. Mas é nas vivências e tradições rurais de Santiago que vai buscar material para as suas composições, “assentes num ritmo a que dei o nome de ‘funanbá’, resultado da simbiose funaná+semba+rumba”, escreveu no autobiográfico Claros d’Alma & Solos (inédito) justificando: “Nunca quis ser mais um a compor a morna, a koladera ou o funaná. O meu propósito sempre foi experimentar e propor música”.
Como poeta, foi fora de Cabo Verde, entre 1971 e 1973 – período em que viveu durante algum tempo na Alemanha e depois a trabalhar em navios – que começou a produzir a sua primeira obra, Vinti xintido letradu na kriolu. “Quando comecei a escrever não tinha noção da questão linguística, simplesmente, o que eu sabia melhor era escrever na minha língua. Pode ser que no meu interior sentisse ser natural escrever na minha língua das coisas da minha terra. Nessa altura eu não tinha lido Pedro Cardoso nem nenhum dos poetas que escreviam em crioulo, que só vim a conhecer mais tarde”, afirma. Anos depois, com o pseudónimo Albely Bakar, começa a publicar também em português.
Kaká Barbosa foi um pioneiro no movimento sindical cabo-verdiano, a partir 1976, área em que atuou durante 11 anos. Mais tarde trabalhou como perito de seguros. Elegeu-se deputado pelo PAICV pelo círculo de Santa Catarina em 2001 e 2006. Foi membro fundador da Associação de Escritores Cabo-Verdianos e da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores (SOCA).
Composições
Codjeta; Dimokransa; Djú; Fri (Free) Son (música de Djinho Barbosa sobre o poema “Finaçon”); Joana; Kassubody; Kôr di Fodjada; Kortel di Rabidanti; Mi é Cima Mi Própi; N´Ka por Si; Mindel mind – Koladera rasgadu (parceria com Djinho Barbosa); Música na Finata 44 (música de Djinho Barbosa sobre o poema “Konfison na finata”); Nha Terra Aonte e Aoje; Resposta de D’zusper; Somada; Tabanca Tchada Grande; Téra madrasta; Trabu di kassa (parceria com Zeca di Nha Reinalda); Tributu a Manuel d´Novas; Txon di massa pé; Unidade e Luta.
Discografia
Participação no CD de Djinho Barbosa Trás di son, a cantar os temas “Mindel Mind – Koladera Rasgadu”, com Tó Alves e o próprio Djinho, e “Tributu a Manuel d’Novas”.
Obras publicadas
- Vinti xintido letrado na crioulo. ICL, Praia, 1984. Poesia, em cabo-verdiano.
- Son di Virason. Spleen, Praia, 1997. Poesia, em cabo-verdiano.
- Chão terra maiamo. Praia, INBL, 2000. Poesia, em português.
- Konfison na finata. Artiletra, Praia, 2004. Poesia, em cabo-verdiano.
- Cântico às tradições. Praia: e/a, 2004. Contos, em português.
- Gaveta branca. Praia, AEC, 2015. Poesia, em português.
- Descantes da minha ribeira. Pedro Cardoso Livraria , Praia, 2019. contos, em português.
Inéditos
- Terra dilecta – Caminhos cantantes, poesia, em português;
- Claros d’alma & solos, ensaio autobiográfico, em português.