Jorge Pedro Barbosa
Jorge Pedro Pereira Barbosa
Santa Maria, Ilha do Sal, 1933 – EUA, 2022
Compositor
Ainda que não seja muito extensa a sua obra como compositor de mornas e koladeras, Jorge Pedro Barbosa tem dois clássicos nesse último género, “Tchapéu di padja” e “Manhã cedo” (que aparece também ora com o título “Baía”, ora como “Saia travada”), que receberam várias gravações ao longo dos anos.
Os seus temas transpiram humor e vivacidade, como já em 1954 a cronista Maria Helena Spencer salientava num artigo publicado em Cabo Verde, Boletim de Propaganda e Informação (março 1954): “Um dia destes, assisti a uma festa. Disseram-me que Jorge Pedro se faria ouvir em números folclóricos. De mim para mim, suspirei – Boa maçada! Há muito que entrou comigo um certo ceticismo: quando oiço falar de folclore cabo-verdiano, adivinho logo uma morna chorada com recados ao mar, saudades de alguém que embarcou para longe, referências à nossa pobreza (…) Quando Jorge Pedro subiu os degraus do improvisado estrado, alguém informou-me: – Ele vai cantar uma coisa muito engraçada, tudo em crioulo. Mais uma vez, suspirei resignada. Mas ele subiu, acompanhado de um grupo de raparigas e, logo, o duo musical começou algo que me pareceu uma marcha (…) Fisicamente, não lhe achei nada de notável: pouco mais de 20 anos – se é que os tem –, cabelos castanhos, olhos claros, um rapaz como qualquer outro. Mas, quando canta, todo ele tem uma expressão diferente: os olhos riem, as mãos agitam-se num gesto nervoso para o conjunto que o acompanha, como a dizer: Mais alegria! Mais alegria!”.
“Com Jorge Pedro, Cabo Verde não é só lágrimas e fome, ausência e saudade… é também alegria e fartura, juventude e prazer”.
Maria Helena Spencer, na crónica “Também sabemos sorrir”, em Cabo Verde – Boletim de Propaganda e Informação, dezembro de 1954.
Filho primogénito do poeta Jorge Barbosa, Jorge Pedro publicou naquela altura os seus próprios poemas no Boletim acima referido e na revista Claridade. Aparece também em várias coletâneas. A revista Garcia de Horta, editada pela Junta de Investigação do Ultramar, publica em 1961 uma edição dedicada a Cabo Verde, integrada nas comemorações do 5º centenário do achamento das ilhas. Entre vários autores, apenas os seus textos e os de Sérgio Frusoni são em crioulo.
A Praia, onde fez a instrução primária, foi o lugar que mais o marcou de entre as várias ilhas por onde passou, dadas as várias transferências do pai, enquanto funcionário das alfândegas. E é a Jorge Barbosa e à poesia com que conviveu na infância que Jorge Pedro atribui o seu interesse pelas letras: “Lembro-me, por altura de 1938/39, quando ele convidava os poucos intelectuais que existiam já na Praia para a nossa casa e era a leitura de poemas brasileiros que influenciaram depois a geração da Claridade, poemas que ele já estava a preparar, alguns até sem título, e eu a escutar por detrás das cadeiras e a pouco e pouco meti no ouvido o ritmo das palavras e da poesia”, declarou ao Novo Jornal Cabo Verde (27.12.1997).
Antes de deixar Cabo Verde, Jorge Pedro Barbosa trabalhou como funcionário público e colaborou com a rádio Barlavento, em São Vicente.
Em Portugal, a certa altura, segundo um relato d’O Arquipélago, atuou com o conterrâneo Amândio Cabral numa recepção para altas personalidades, tendo deliciado os presentes com as suas mornas e koladeras. “Jorge Pedro, com irradiante simpatia e notável presença, falando em português e correto inglês, disse ainda vários poemas em crioulo, que explicou previamente, provocando visível agrado dos presentes” (O Arquipélago, 19.12.1963). Nessa época já vivia nos EUA, onde estudou na Universidade de Harvard, ao mesmo tempo que desenvolvia intensa atividade cultural, com conferências, filmes e publicações sobre temática cabo-verdiana, como dava conta o mesmo jornal (O Arquipélago, 06.06.1963), seis meses antes da notícia anterior. Fixou-se então nos EUA, a trabalhar na companhia aérea brasileira Varig e residindo em Nova Iorque, onde viveu até ao fim da sua vida. Faleceu no início de janeiro de 2022.
Composições
Baía/Saia de Travada/Manhã Cedo; Djom pó-di-pilom; Menina di Bila; Ondas Tchora/Um Ca Crê Uvi Ondas Tchorá; Santo Antão; Tchapéu di Padja
Publicações
Modernos poetas cabo-verdianos (org. Jaime de Figueiredo), 1961; “Pequena amostra de poesia cabo-verdiana”, Garcia de Horta, 1961, vol. 9, nº1; Poetas e contistas africanos de expressão portuguesa (org. J. A. Neves), 1963; No Reino de Caliban (org. Manuel Ferreira), 1975; Contravento, antologia bilingue de poesia cabo-verdiana (org. Luís Romano), 1982.
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