Joli Gonsalves
John Pires Gonsalves
New Bedford, EUA, 1925 – New Bedford, EUA, 1998
Cantor, multiinstrumentista, editor
Filho de bravenses, Joli Gonsalves foi uma figura de destaque na comunidade cabo-verdiana na região de Massachussets, pelas suas atividades como músico, animador cultural, educador, radialista e fundador, em 1986, do Cape Verdean Cultural Center – de que foi o diretor durante vários anos –, tendo sido por este facto condecorado pelo município de New Bedford, em 1990. Desenvolveu todas estas atividades a partir do fim dos anos 1960, quando voltou à sua cidade natal, New Bedford, depois que um grave acidente de viação pôs fim à sua carreira como cantor, pois até então vivera em Nova Iorque, onde a sua carreira foi muito além dos limites da comunidade cabo-verdiana.
Joli Gonsalves fez parte do Leonard De Paur Infantry Chorus e do The Belafonte Folk Singers, grupo criado em 1957 para acompanhar Harry Belafonte nas suas tournées. Não se tratava de um coro, mas sim de um agrupamento de solistas. Participam em vários álbuns de Belafonte e, num deles, Gonsalves interpreta “Tunga”– tema que por vezes aparece com o título “Tunga Tunguinha” e que neste disco é dado como da sua autoria, embora algumas fontes refiram tratar-se de um tema popular. A composição encontra-se também num dos três discos que os The Belafonte Folk Singers gravaram em nome próprio. Com alguns membros deste grupo, Joli Gonsalves formou em seguida o Seafarers Chorus. Nesse período, em digressões sob os auspícios do Departamento de Estado norte-americano, visitou 14 países africanos, entre os quais a Libéria, para o qual terá composto um hino nacional (que não se conseguiu apurar se foi adotado).
Antes disso, durante a II Guerra Mundial, cumpriu várias campanhas na Europa. Foi depois de terminada a guerra que o artista passou a dedicar-se integralmente à música: a partir de 1947, atuou como vocalista e percussionista da All Star Cape Verdean Orchestra e, de 1949 a 1952, graduou-se na Arlington Academy of Music, em Arlington, Massachussets (The Standard Times, 25.04.1998). Entre grupos formados por cabo-verdianos em que participou como vocalista estão o Lombadiers, com quem gravou um disco de 78 rotações, e mais tarde o Creole Sextet, ao lado de Al Lopes e Young Boboy, entre outros.
Joli Gonsalves trabalhou também na edição de discos. Um artigo no jornal O Arquipélago (03.10.1968), publicado em Cabo Verde ao longo da década de 1960 e até 1975, dá conta da Joli Tinker Publishing Co., da Gon-Jo Publishing Co. e da Lota Discos, esta última, segundo o jornal, a única editora especializada em música cabo-verdiana nos EUA, na altura. É por esta editora que saiu o primeiro álbum de Amândio Cabral editado nos EUA, na década de 1960.
Entre 1970 e 1972, Joli Gonsalves foi locutor da emissora de rádio WNBH, de New Bedford. À parte várias funções que desempenhou junto à administração local, ligadas à área social, foi ainda apresentador e produtor de um programa de TV para a comunidade cabo-verdiana e lecionou num programa de ensino bilingue para jovens de origem portuguesa e cabo-verdiana. Tinha grandes conhecimentos de história, em particular dos negros, e da influência dos judeus em Cabo Verde, lê-se no The Standard Times (25.04.1998), jornal de New Bedford, por ocasião da sua morte, noticiada na primeira página.
Discografia
- Joli Gonsalves & Joe Livramento, LP, 1969.
- Participação no 78 rpm do grupo Lombadiers, [déc. 1940] a interpretar o tema “Caminho longe” (será “Sodade”?).
- Participação em discos de Harry Belafonte: LP Streets I Have Walked, RCA, Nova Iorque, [déc. 1950]; EP This Land is Your Land, RCA, Nova Iorque, [déc. 1950].
- Solo em disco do Belafonte Folk Singers: EP At Home and Abroad, RCA, Nova Iorque, 1961. A interpretar “Tunga”.
- Participação no CD So Sabi: Cape Verdean Music from New England, 1999, com o Creole Sextet.
Composição
Vivi, Tunga (autoria controversa)
Colaborou na pesquisa: Ron Barboza