Johnny Rodrigues
João Rodrigues
Mindelo, São Vicente, 1951 – Mindelo, São Vicente, 2004
Cantor
Sucesso fulgurante e efémero foi o do mindelense Johnny Rodrigues, que esteve nos tops musicais na Holanda e na Bélgica durante três meses, em 1975, a cantar uma música portuguesa: “O malhão” (“Hey mal yo”, na sua versão). Este foi o seu grande sucesso, mas seguiram-se outras gravações de músicas portuguesas: “Uma casa portuguesa” e “Mariquinha”, esta última uma versão de “Vou dar de beber à dor” (“Casa da Mariquinhas”), do repertório de Amália Rodrigues, sendo este artista, como refere o blogue No bairro do vinil, um dos poucos cantores africanos a cantar folclore português.
“Hasibaba” (na verdade “Tunga”, é outro tema lançado em single no verão de 1975 e “Tente” é outro tema cabo-verdiano do seu eclético repertório. O único LP traz, além dos temas portugueses e cabo-verdianos, vários em inglês e ainda “Amor divino”, em espanhol, gravado na mesma época por Paulino Vieira e Bana.
A breve carreira de Johnny Rodrigues é contada na Wikipédia, incluindo a sua discografia, e retomada pelo citado blogue e ainda por Portugal através do mundo. Segundo estas fontes, Rodrigues terá saído de Cabo Verde no início da década de 1970 para escapar ao serviço militar, algo frequente nessa altura em que se vivia a guerra colonial. Depois de algum tempo nos EUA, encontrava-se na Holanda a trabalhar como DJ quando recebeu convite para gravar um disco. Apresentava-se então como Johnny Rodrigues & Orquestra, embora cantasse a solo. Noutros momentos, aparecia simplesmente como Johnny Rodrigues ou como Johnny & Orchestra Rodrigues.
Quem viveu de perto esse momento, recorda: “Quando cheguei, em 1975, e me perguntavam qual era minha origem e dizia-lhes que eu era de Cabo Verde, muitos holandeses começavam a cantar ‘Oh malhão malhão, que vida é a tua…’”, refere Guy Ramos em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens, dando a dimensão da fama do cantor na Holanda, naquele momento. “Com o dinheiro que ganhou, comprou roupas finas e um belo carro que andava a mostrar nas ruas de Roterdão, onde os cabo-verdianos residem”, recorda.
No final da década, como se encontrava em situação ilegal no país, Johnny Rodrigues acabou por ter de regressar a Cabo Verde. Guy Ramos conta que o encontrou em 2003 em estado de completa penúria pelas ruas do Mindelo. “Fiquei para regressar e fazer uma entrevista, mas não aconteceu. Alguém quis até patrocinar um documentário e trazê-lo para a Holanda, mas nesse meio tempo ele faleceu, em julho do ano a seguir”.
Passados tantos anos, Johnny Rodrigues permanece nos arquivos holandeses. Nos finais dos anos 1990, segundo Ramos, uma emissão best of de antigos sucessos mostrava-o num vídeo da AVROS Top Pop (AVROS é o canal público de TV holandês). Nesse vídeo, Rodrigues pode ser visto no auge da moda de então – calças boca-de-sino e cabelos black power – ao lado de um par de bailarinos também negros a dançar o conhecido tema do folclore português. Isso no momento em que Cabo Verde proclamava a independência e em que a ordem do dia era reafricanizar os espíritos. Não admira que permaneceu desconhecido em Cabo Verde.
“Hey mal yo” aparece em pelo menos oito compilações, a mais recente em 2005, e as suas gravações de “Mariquinha” e “Uma casa portuguesa” estão também reeditadas em coletâneas. Todos os seus discos encontram-se à venda pela internet através de sites especializados em vinil.
Discografia
- Hey mal yo/Johannesburg, single (Johnny e The Orchestra Rodrigues), Negram, [Holanda], 1974. Reeditado na Alemanha pela EMI, 1974 apenas em nome de Johnny Rodrigues.
- Hey mal yo, LP (Johnny & Orchestra Rodrigues), Negram [Holanda], [1974].
- Mariquinha/Tente (Johnny Rodrigues e Orchestra), single, EMI, [Holanda], 1975. Reeditado em Portugal pela Valentim de Carvalho e na Alemanha pela EMI.
- Hasibaba/Monalisa, single, EMI, Bélgica l/d, 1975.
- Uma casa portuguesa/Maranque, single, Negram, Holanda l/d, [1975].
Ouvir
Colaborou na pesquisa: Guy Ramos