João José Nunes
João José Nunes
Nova Sintra, Brava, 1885 – Dorchester, Massachusetts, EUA, 1965
Compositor, poeta
Poeta, autor de mornas, hinos religiosos e marchas, que compunha para os grupos que animavam as festas de fim de ano na Brava, João José Nunes – ou Nho Djuninho, como era conhecido na sua ilha – escrevia em português e em crioulo. Durante mais de 40 anos os seus versos aparecem dispersos por publicações cabo-verdianas como A Voz de Cabo Verde, O Futuro de Cabo Verde, entre outros. Em 1950, Cabo Verde – Boletim de Propaganda e Informação publica um poema seu intitulado “A morna”, que dedica a Baltasar Lopes da Silva. Publicou também alguns opúsculos com poemas. Um deles, Ecos d’alma, 15 páginas de versos de exaltação amorosa, Eugénio Tavares prefaciou, “para lhe dizer que os seus sonetos são poesia, coisa que não acontece a todos os sonetos”. Aparece também – ao lado de Jorge Barbosa, Eugénio Tavares, José Lopes e Pedro Cardoso – num número especial do Jornal da Europa (22.04.1928) dedicado a Cabo Verde.
Algumas das suas mornas foram gravadas por artistas da Brava, como Vuca Pinheiro, João Alfredo e Armando de Pina, e também por Gardénia Benrós, ligada à ilha por laços familiares e afinidade com o universo da morna. Outras, de que não se encontrou gravações editadas, figuram na coletânea Mornas – Cantiga que Povo ta Canta (org. Benvindo Leitão, 1982). Curioso entre as suas composições é “Ca bo Calcan co bo Cabalo”, cuja letra parte de um ponto de vista feminino (“Mi é mudjer, mi é um flor / Ca bo calcan co bo cabalo“), aspeto muito raramente encontrado entre os compositores cabo-verdianos. Não consta que tocasse algum instrumento, sendo as melodias compostas por parceiros. Com José Medina foram várias, segundo a filha deste, Luísa Medina (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens).
João José Nunes compôs hinos para a Igreja do Nazareno, que chegara à Brava em 1901. “Algumas pessoas eminentes da Ilha se uniram à Igreja e deram o seu contributo à Obra. Entre estas destacam-se os poetas Eugénio Tavares e João José Nunes. O primeiro era muito estimado pelo povo e respeitado pelo seu saber e bondade. Escreveu alguns hinos e os musicou. O segundo foi seu discípulo e grande admirador. Escreveu também muitos hinos principalmente para as celebrações do Natal”, lê-se em Primórdios do Evangelho em Cabo Verde, livro da autoria de Francisco Xavier Ferreira (1972). Dois hinos de João José Nunes, “Jesus” e “Natal”, têm a letra reproduzida nessa obra. Em A Imprensa Cabo-Verdiana, 1820-1975, de João Nobre de Oliveira (1998), aparecem outros dois títulos de hinos sacros: “Amor” e “Noite de paz”.
Vertente menos conhecida da sua obra é a de dramaturgo. No Arquivo Nacional de Cabo Verde, a pasta referente a peças teatrais censuradas no ano de 1946 (documentos relativos ao Concelho da Praia), há uma de João José Nunes, intitulada O caçador de dollars, na qual é cortada pelo censor uma fala em que a personagem, submetida a um exame, responde que Cabo Verde são seis ilhas, entre outros dados incorretos, e com essas respostas recebe uma boa nota.
Vivendo sempre na sua ilha natal, onde dirigiu o jornal A Tribuna (1913-1914) e fundou o Club Republicano Marinha de Campos, à seguir à proclamação da República em Portugal, João José Nunes foi escrivão e tabelião do julgado municipal da ilha Brava a partir de 1916 e presidente da Câmara, a partir de 1926, segundo A Imprensa Cabo-Verdiana… Emigrou para os EUA em 1963 e aí faleceu, no ano em que completaria 80 anos.
Composições
Ca bo calcan co bo cabalo; Cabalo dogado; De ti me veio a dor; Fonte; Grupo Brilhante (Alcides Fortes, Emanuel Feijóo e Amâncio Rodrigues); Língua di mundo; Madrugada; Marcha da Mocidade (parceria com Manuel Galvão e Manuel Fortes); Mocidade; Morna Frank Martins; Nha amor, ó nha amor, adeus; N’bâ cutelo spiabo; Oraçan de sodade; Triunfador.
Publicações (lista não exaustiva):
- Ecos d’Alma, Imprensa Nacional, Praia, 1927 (conjunto de sonetos). Reedição Pedro Cardoso Livraria, Praia, 2018 (org. Djick Oliveira).
- Bia, Minerva de Cabo Verde, Praia, 1945 (poema em cabo-verdiano).
- Deus Salbâ Nhose!, Minerva de Cabo Verde, Praia, 1955 (letra de uma morna dedicada ao presidente da República Craveiro Lopes, por ocasião da sua visita, em 1995, ao arquipélago).
Outras, segundo A Imprensa Cabo-Verdiana 1820-1975: “In memoriam do Presidente Franklin Roosevelt”; “Proscritos da ventura” (poema inspirado na fome de 1942); “Imagem do bem” (poema dedicado à rainha Isabel II da Inglaterra); “Entardecer”.
Colaborou na pesquisa: Vuca Pinheiro