Ivo Pires
Ivo Pires
Pé di Rotcha, Brava, 1942 – Boston, EUA, 2009
Instrumentista (violino), construtor de instrumentos
Muito cedo Ivo Pires começou a revelar o seu talento para construir instrumentos. A sua genialidade neste ofício, em que se formou de maneira completamente autodidata, ficou evidente já por volta dos 10 anos, quando começou a produzi-los a sério e a ter compradores e clientes que querem reparar os seus instrumentos. Assim, Ivo vai tendo contacto com peças produzidas na Europa e nos Estados Unidos e, da observação dos seus pormenores, vai aperfeiçoando-se.
Também começou a tocar ainda criança, e aos 8 anos já acompanhava músicos adultos em festas onde fossem tocar. De modo que a sua fama o precedeu nos EUA, para onde emigrou aos 24 anos, como refere o texto “A Tribute to a Master – Ivo Pires” (http://www.forcv.com/entertainment/2036-a-tribute-to-a-master-ivo-pires – já não disponível online). Desde o dia em que pisou solo americano, diz o site, não houve fim de semana em que não estivesse a atuar em eventos da comunidade cabo-verdiana na Nova Inglaterra. Nessas ocasiões, mesclava o seu repertório tradicional de mornas, polcas, mazurcas, valsas e foxtrots com músicas mais recentes, como koladeras e os ritmos latino-americanos, como cumbia, salsa e merengue.
Em 1995, formou um grupo musical que integrava Protázio Brito (Tazinho), Laurindo da Graça e Alcides da Graça (filhos de Djedjinho), Daniel Lamas e Manuel Xavier. Foi o primeiro grupo cabo-verdiano a atuar no Museu de Historia Natural dos EUA, em Washington, D.C., por iniciativa do Smithsonian Institute. Foi nessa altura que Ivo Pires gravou o seu único álbum, Tradiçon. No CD Sãozinha canta Eugénio Tavares, da cantora Sãozinha Fonseca, ouve-se o seu violino em alguns dos temas.
Na vertente de construtor e reparador de instrumentos, Ivo Pires ganhou elevada reputação, sendo referido por revistas especializadas e procurado por músicos como o célebre Yo Yo Ma, norte-americano de origem chinesa considerado um dos maiores violoncelistas do mundo.
Pires trabalhou na Carl Fischer, uma das principais lojas de música em Boston, onde passou vários anos. Numa entrevista ao músico e escritor Elijah Wald (http://www.elijahwald.com/afrarch.html), que vê algo de “mágico” no seu talento, o artista conta que, ao procurar essa empresa em busca de emprego, propôs ao proprietário mostrar-lhe o que sabia fazer, antes de preencher os papéis com os seus dados. Ao vê-lo trabalhar, Carl Fischer, que de facto estava a precisar de um especialista na reparação de instrumentos, disse-lhe que continuasse até o fim do dia . Ou seja, estava empregado.
Ivo Pires contou a Wald não ter lido praticamente nada, nunca ter estado num museu de instrumentos antigos e que não podia se basear em convenções, porque nos primeiros tempos nos EUA o seu inglês não era suficiente. “Ele apenas, de algum modo, sempre soube o que fazer”, escreve.
Depois daquele primeiro emprego em que passou alguns anos, transferiu-se para a Boston String Instruments, cuja localização, nas instalações do New England Conservatory e próximo da Boston Symphony, garantiu-lhe uma clientela fiel. Aí trabalhou por 31 anos, construindo violinos, violoncelos, baixos, violas da gamba, bandolins e guitarras, e acabou por adquirir o negócio após a morte do patrão. Depois disso, contudo, só trabalhou por mais seis anos, tendo de aposentar-se devido a problemas de saúde.
Em 2012 sai um disco póstumo, com gravações feitas na altura do primeiro lançamento mas não utilizadas na edição.
Discografia
- Tradição, CD, ed. de autor, EUA, 1996.
- Tradição 2: Viva o Ano Novo, CD, ed. de autor, EUA, 2011.