Idiofones

Por GN em

Por Margarida Brito

Etimologicamente a palavra “idiofone” tem origem nos termos em latim: idium (próprio) e fono (som). Isto quer dizer que os idiofones são instrumentos cujo som vem da elasticidade da própria matéria. Quanto à forma de execução estão divididos em:

  • idiofones de percussão direta (txabeta, pilon com colexa, triangulo, cajon)
  • idiofones de percussão indireta (friccionados, como o ferrinho, reco-reco e matracas/catreba; e sacudidos, como as maracas)

Idiofones de percussão direta 

Nesta categoria encontramos todos os instrumentos percutidos com a mão ou com uma baqueta. Temos os panos, também chamados txabeta, usados no batuku, aos quais se juntam as mãos entrechocadas, e os triângulos.

Panos (txabeta) -Este idiofone percutido, que é utilizado no batuku, consiste num pano que é enrolado e colocado entre as coxas, normalmente de uma mulher, e que é percutido com as mãos abertas. Inicialmente, utilizava-se o pano d’obra (tecidos produzidos em tear manual), que as mulheres atavam na cintura. Depois, este pano passou a ser envolvido em sacos de plástico, para aumentar a sua sonoridade. Atualmente, é envolvido em pele sintética, utilizada para forrar sofás, fixo num suporte na parte de baixo, por forma a poder encaixar-se melhor entre as coxas. Mais recentemente, alguns grupos de batukaderas passaram a utilizar o djembê (que é um membranofone).

Triângulo (fonte: Internet)

Triângulo – É um idiofone percutido construído a partir de barras de ferro com a forma de um triângulo, com os vértices arredondados. Num dos ângulos do triângulo os vértices ficam ligeiramente afastados. O triângulo é suspenso por um cordel na parte superior e percutido com uma pequena vara também de ferro nas partes laterais tanto no interior como no exterior.

Fanduke, 1991. Fonte: Instrumentos Musicais em Cabo Verde

De origem europeia, era usado em Cabo Verde em particular na ilha de São Nicolau, durante os festejos de São Pedro e São Pedrinho (primeiro domingo depois de São Pedro, se este não cair em dia muito próximo do domingo). Havia a tradição de um cortejo constituído por um homem a tocar o triângulo e um boneco (do tamanho de um homem) chamado Fanduke (ou Fanbuco), montado num burro conduzido por outro homem que  vai a pé, atrás. Uma garrafa de “grogue” passa de mão em mão. A tradição perdeu-se, de certa maneira, após a morte de António Balbina, que tocava o triângulo, e do sapateiro Aurélio (Orel), que fazia o Fanduke (também chamado Oranga). Outras descrições mostram o boneco já não montado num burro, mas sim colocado dentro do barco de S. Pedro.

Pilon com colexas – Trata-se de um idiofone percutido constituído por um pilão geralmente de madeira e um par de paus (colexas) usados na ilha do Fogo nas festas de São Filipe, no início do mês de maio. Normalmente, o pilon é executado por três pessoas (em geral mulheres) que batem com paus maiores no interior do pilão que contém o milho para fazer o xerém, enquanto dois homens, cada um com um par de colexas, batem no bordo lateral do pilon. À volta, mulheres e alguns homens acompanham com palmas e cantos enquanto uma solista canta e os restantes respondem com um pequeno ostinato rítmico (olé, óle lá).  

Cajon – Instrumento com origem no Peru colonial, com o qual os escravos substituíram os instrumentos de percussão de que foram separados. Cajon em espanhol significa “caixa grande” ou “gaveta”.

É um instrumento feito em madeira, e modelos mais recentes possuem cordas sob o tampo. Pela sua sonoridade, baixo custo e fácil transporte, difundiu-se internacionalmente e atualmente é muito utilizado por pequenos grupos musicais.

Idiofones de percussão indireta

Nesta categoria encontramos os idiofones friccionados, caso do ferrinho, do reco-reco e da catreba ou matraca. Nos idiofones sacudidos temos como exemplos as maracas chamadas de chocalho, e o racordai, chamado de pandêr, ou pandiêr (depende da ilha).

Idiofones friccionados

Ferrinho – É constituído por uma lâmina de metal (ferro ou aço) que é friccionada normalmente com uma faca.

A lâmina maior é feita geralmente do aproveitamento de um pedaço da enxerga de uma cama de ferro. Este instrumento complementa a gaita de mão ou concertina. São instrumentos típicos do funaná rural.

Reco-reco – É um idiofone fricativo, constituído geralmente por um tubo de bambu, madeira, cana ou metal com entalhe, que é friccionado com uma pequena vara. Foi introduzido em Cabo Verde nos anos 1940, vindo da América do Sul. O seu uso em Cabo Verde teve o seu auge nos anos 1970 sobretudo com o grupo Voz de Cabo Verde.

Catreba, ou treba em Barlavento, matraca em Santiago (foto à esq.: Internet; à dir: imagem obtida no Cuculi, cedida por Carlos Gonçalves)

Catreba, treba ou matraca – É um idiofone fricativo constituído geralmente por uma placa de madeira retangular, munido numa das extremidades de uma roda dentada que é raspada por uma pequena lingueta de madeira flexível.  Em Portugal, este instrumento para além de matraca, tem também o nome de rela. Antigamente em Cabo Verde, a catreba era utilizada nas festas de Páscoa e Pascoela na quarta-feira de treba (treva).

A matraca também designa o nome de um outro instrumento feito de uma placa de madeira retangular, munido de argolas de ferro e que são agitadas. Este instrumento era usado em substituição do sino, durante o “enterro” de Cristo na Sexta-Feira Santa.                                          

Idiofones sacudidos

Maracas ou chocalho – As maracas, também chamadas chocalho, são instrumentos de origem latino-americana pertencentes à pequena percussão no acompanhamento da morna e da koladera. 

São feitos de cabaça ou de coco, contendo pequenas sementes no seu interior. O seu uso em Cabo Verde provavelmente começou com os princípios da morna. 

Racordai: em cima, foto de Maria Piedade; em baixo, foto de Carlos Gonçalves, Cuculi

Racordai, Pandêr ou Pandiêr – É constituído por um retângulo de madeira, munido de um punho. Na parte superior do retângulo estão pregadas uma fileira de três ou mais soalhas de metal sobrepostos (pratinhos achatados). Este instrumento é utilizado nas festas de São Silvestre, mais precisamente no dia 31 de dezembro no final da tarde, por grupos de crianças, e pelos adultos (um pouco mais tarde com o violão e o cavaquinho), que cantam de porta em porta para desejar “boas festas” e em troca recebem dinheiro. Antigamente o dia dos Reis era festejado em Cabo Verde, com o acompanhamento do racordai. Este instrumento em Portugal tem o nome de chincalho e é usado nos cantos das Janeiras e Reis, sobretudo no Alentejo, na região do Estremoz.

Outros – Afoxé e o Shekeré, de origem brasileira, são outros tipos de idiofones sacudidos utilizados na música de Cabo Verde. São mais utilizados no Carnaval, sobretudo o Afoxé.

                         

                                            

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