Heavy H

Helder Augusto Lopes da Silva
Praia, Santiago, 1974
Compositor, cantor, empresário, comunicador
Eclético – esta será talvez a palavra mais precisa a atribuir a Heavy H, que se desdobra em diferentes atividades e que no seu trabalho musical percorre sem restrições o universo sonoro de tudo o que é bom para dançar: do rap em que começou ao reggae, passando pelo zouk love, funaná, soukouss… Com um toque de humor e irreverência, por um lado, e, por outro, um olhar crítico que transparece das letras e do seu discurso.
Já no seu primeiro disco, Sampadjudu ku badio nos e kool, põe o dedo na ferida que é a questão do bairrismo em Cabo Verde. Anos depois volta ao assunto, com Família, do álbum Amigo, “um tema feito para unir e sobretudo para acabar com bairrismo estúpido que insiste em dividir as ilhas”, afirma ao A Semana online em 2009 (http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article42104 – já não disponível). Na entrevista, refere, a propósito de nem sempre se sentir valorizado: “Acho que me massacram muito como artista porque não vim de uma família pobre, sou formado, vim de uma classe média onde sempre tive tudo.”
Pode-se considerar Heavy H como o introdutor do rap em Cabo Verde (ou pelo menos um dos primeiros a praticar o género). Na época, a novidade foi mal recebida: um artigo no Novo Jornal Cabo Verde terá dito que estava a trazer a “lixarada” americana para o país. O artista reagiu com um pedagógico esclarecimento sobre o que vai pela música pop ao redor do mundo, lembrando que, aliás, o que ele estava a apresentar não era o rap “mas sim o ‘dancehall style’. Trata-se de um estilo jamaicano (rub-a-dub) que também está a fazer sucesso mundialmente” (Novo Jornal Cabo Verde, 07.06.1994).
Anos depois, ao recordar o episódio, afirmou: “Acho que o cabo-verdiano tem um pouco de medo da mudança, mas as coisas não podem ser estáticas” (Expresso das Ilhas, 16.02.2005). “Sou um cabo-verdiano, portanto um crioulo, o que significa ser produto de encontro de culturas, uma pessoa que estudou nos Estados Unidos e que foi recolher estilos um pouco em cada continente, ao mesmo tempo que procuro manter o funaná”, define-se (www.visaonline.com, 24.11.2001, já não disponível).
“Acho que o cabo-verdiano tem um pouco de medo da mudança, mas as coisas não podem ser estáticas.”
Heavy H, em entrevista ao jornal Expresso das Ilhas, 16.02.2005.
Por volta dos 8 anos, Heavy H começou a dançar imitando Michael Jackson. “Nós que nascemos nos anos 1970, como Gil, Gilyto, Jorge Neto, bebemos todos nesse homem fantástico.” (http://capeverdevideo.com/int/video/B9SRM3DNOWY2/Gamboa-2010-Entrevista-ao-Heavy-H, já não disponível). Por volta dos 11, já atuava como DJ em festas de escolas ou em casas noturnas, como Pilon e Dinôs, e aos 13 encontrava-se a animar a festa de réveillon do extinto hotel Marisol, na Praia, muito disputada nesses finais dos anos 1980.
Começou então a compor e a cantar – os temas do seu primeiro álbum, que lançou aos 22 anos, foram compostos aos 15. O nome artístico que adotou ainda muito cedo faz alusão ao jamaicano Heavy D (1967-2011), cujas semelhanças com o jovem artista estavam no facto de também ser heavy, no peso, e eclético musicalmente (R&B, rap, house, reggae, gospel…), como o músico cabo-verdiano veio a ser.
Nesses seus primeiros anos de atividades musicais, Heavu H foi o apresentador do primeiro Festival da Gamboa, quando este ainda não passava de um ou dois grupos em cima de um contentor, conta ao programa CV Mix (TCV, http://www.youtube.com/watch?v=lYiN-xDzJIE&feature=related).
Depois do disco de estreia (1996), seguiu-se Rabenta bolha, dois anos depois, álbum que não ficou muito conhecido pelo público devido a um problema de divulgação, segundo o artista. Em 2001, saiu Bom pa filme, o seu maior sucesso de vendas, em que apresenta os até então desconhecidos Samira e Djoy Amado – este último teve nesse disco a sua primeira composição gravada. Em 2005 foi a vez de Ah minis, a que se seguiu Amigo (2009).
A partir de 2000, Heavy H foi presença assídua nos CD Projecto Verão (que a cada ano apresentam um conjunto de nomes da música jovem cabo-verdiana) e compareceu em trabalhos de outros artistas, como Mizé Badia e Zerui Depina. É também uma das vozes que aparece no CD Crianças di Terra, projeto musical-solidário de Kim Alves e Nando da Cruz.
Foi também em 2000 que iniciou o programa Nobidadi na Obidu, na recém-criada Praia FM, emissora que introduziu uma fórmula nova em Cabo Verde na comunicação radiofónica voltada para o público jovem e para cujo sucesso certamente o estilo irreverente de Heavy H deu a sua contribuição. Durante 11 anos, divulgou semanalmente lançamentos musicais e dialogou com o público sobre problemas da atualidade.
Em 2024 foi o artista homenageado no Festival da Gamboa, na sua trigésima edição. Isso depois de 15 anos sem ser convidado para participar de festivais de música no país.
Na sua vertente de empreendedor, criou duas discotecas que fizeram história na cidade da Praia: Bomba H, em 1999, e mais tarde Flampa, 2003, projetos em que pôs em prática não só a paixão pela música e o entretenimento mas também a sua formação em marketing e administração, que cursou na Universidade do Arizona. Na área do marketing, realizou trabalhos para grandes empresas cabo-verdianas e apareceu numa publicidade da marca de cerveja Strela (http://www.pflores.com/heavy-h-biografia, não disponível). Também já passou pela culinária e, em tempos recentes, enveredou por uma nova área de negócios: a agricultura aeropónica, construindo uma fazenda vertical, mais uma vez uma inovação que Heavy H introduz em Cabo Verde.




Discografia
- Sampadjudu ku badio nos e kool, CD, e/a, New Bedford, 1996.
- Rabenta bolha, CD, ZO/SA, Amadora, 1998.
- Bom pa filmi, CD, Cabo Verde Productions, Praia, 2001.
- Ah minis, CD, Cabo Verde Productions, Praia, 2005.
- Amigo, CD, e/a, Praia, 2009.
- Participação em várias edições de Projecto Verão.
Para saber mais
Entrevistas de Heavy H à TCV (2010) e à RCV (2024)