Festival de Santa Maria
Texto baseado no artigo “25 anos no palco e no disco”, publicado na revista “KCultura” (2000, edição comemorativa dos 25 da independência de Cabo Verde).
Por Gláucia Nogueira
O festival anual qua acontece na ilha do Sal, no mês de setembro, nasceu associado às festas do município, entre atividades religiosas e desportivas, acabando por ganhar vida própria. Teve a primeira edição em 1990.
A aposta no turismo veio alguns anos depois, lembrava em 1999 o presidente da comissão organizadora, Alberto Ferreira, em entrevista ao jornal A Semana: “Em 1996 tínhamos como filosofia levar o festival a ultrapassar as fronteiras nacionais. Rapidamente verificamos que era possível transformar o festival num produto turístico.”[1]
Nessa linha de raciocínio, Ildo Lobo, responsável pela direção artística, justifica ao jornal português Público: “Temos de investir na música, que é onde culturalmente somos mais fortes”[2]. A mesma edição transcreve a intervenção do presidente da Câmara Municipal, Basílio Ramos, ao abrir o evento, que espera seja “um momento de convívio, um momento de sabor, como o crioulo diz (…) mas também um momento de promoção da ilha do Sal, um momento de vinda de turistas.”
“Temos de investir na música, que é onde culturalmente somos mais fortes”
Ildo Lobo, quando diretor artístico do Festival de Santa Maria, em entrevista ao jornal Público, 27.09.1998.
A aposta – passando pela transmissão em direto assegurada pela RTP-África e por convites a órgãos de comunicação portugueses – dá os seus frutos, pois é assim que o semanário português Expresso começa o relato do festival de 1998: “A ilha do Sal, para além de ter praias de sonho e a população mais simpática, hospitaleira e pacífica que se pode imaginar, promove desde há nove anos um festival de música que tem vindo a crescer em importância e qualidade.”[3]
Embora com menor dimensão que os seus congéneres – atraía nesses primeiros em média quatro mil pessoas a cada edição e teve em 1997 um orçamento 5 mil contos, contra 26 mil contos do festival da Gamboa, no mesmo ano – mas não isento dos mesmos problemas técnicos e atrasos, além de alguma polémica, o festival da Praia de Santa Maria parece cumprir a intenção dos organizadores, pelo que revelava mais um artigo do Público, este em 1999: “Já lá vai o tempo em que não se sabia muito bem onde gastar dinheiro, exceto em garrafas de grogue, latas de atum e lagostas. Agora os pescadores já não vendem lagostas aos turistas, porque a produção é consumida pela hotelaria local. Em contrapartida, multiplicam-se as lojas de artesanato e de vestuário, assim como a oferta de passeios de barco, pesca em alto mar, tudo a preços bastante ocidentalizados.”[4]

Festival de Santa Maria em anos recentes
Obs.: Como o artigo em que se baseia este texto foi escrito e publicado no ano 2000, não estão aqui incluídas informações posteriores a essa data. Contudo, a história do festival continua. Cabo Verde & a Música – Museu Virtual aceita colaborações. Tem dados recentes sobre este tema e quer colaborar? Envie a sua proposta de texto para contato@caboverdeamusica.online.
[1] Brito, Kim Zé, Tentamos balançar entre o calor e a dolência, suplemento Festival, A Semana, 17.09.1999.
[2] Maio, Luís, Festival com Sal, suplemento Pública, Público, 27.09.1998.
[3] Alves, Jorge Lima, A grande festa do Sal, suplemento Cartaz, Expresso, 26.09.1998.
[4] Santa Maria Transfigurada, Público, 20.09.1999.