Festival da Gamboa
Texto baseado no artigo “25 anos no palco e no disco”, publicado na revista “KCultura” (2000, edição comemorativa dos 25 da independência de Cabo Verde).
Por Gláucia Nogueira
Em fevereiro de 1990, o grupo Os Tubarões organizou, em comemoração dos seus 21 de existência, um evento que reuniu 7 mil pessoas na Praia da Gamboa, na cidade da Praia, como dava conta uma notícia no jornal Voz di Povo alguns dias depois: “Na Praia da Gamboa – Milhares de pessoas festejaram XXI Aniversário dos «Tubarões».[1]

Esse evento foi o embrião do que viria a acontecer nos anos seguintes. Em 1991, embora organizado à última hora, voltou-se a repetir a dose: “Mini-festival com artistas na diáspora”, diz o título, no mesmo jornal.[2]
Em 1993, instituiu-se definitivamente, no âmbito das festas municipais, no mês de maio, o Festival da Gamboa, que três anos mais tarde foi considerado “o prato forte da programação” dessas festas pelo então presidente da Câmara Municipal, Jacinto Santos. O autarca declarou na época ao Novo Jornal Cabo Verde ter a intenção de “transformar o Festival de Gamboa num dos principais festivais de música de Cabo Verde”[3].
A partir de então, o Festival da Gamboa passou a atrair anualmente cerca de 20 mil espectadores, diz uma notícia de 1997.[4] Passou a ser transmitido para todas as ilhas e para o estrangeiro, pela RTP África, a partir de 1998. Tinha na época um orçamento de 33 mil contos.
Como todos os outros festivais que se realizam em Cabo Verde, o da Gamboa enfrentou ao longo dos anos problemas ligados a patrocínios e foi marcado por polémicas. Mas o êxito alcançado em 1999, a sua sétima edição, colocou-o entre as principais atividades culturais de Cabo Verde na virada do milénio. “Gamboa pode não resolver os problemas da Praia, mas contribui para o nosso lazer e felicidade. É uma conquista a preservar”, lê-se no jornal Horizonte[5].
“Gamboa pode não resolver os problemas da Praia, mas contribui para o nosso lazer e felicidade. É uma conquista a preservar.”
Alexandre Semedo, no jornal jornal Horizonte, 20.05.1999.
Quanto ao futuro, lê-se na mesma publicação: “O nível já alcançado pelo festival aponta para um tipo de organização que se dedique essencialmente a esse tipo de atividade ou, pelo menos, há necessidade de empreender parcerias entre agentes que desenvolvem atividades nesse domínio e colaterais, designadamente nas esferas de transportes aéreos, hotelaria, transportes terrestres, agências turísticas…”[6]
Após três décadas de realização, o Festival da Gamboa é um evento que marca o calendário de eventos culturais da capital cabo-verdiana, tendo a partir de certa altura incluído atividades diurnas dedicadas ao público infantil.

Festival da Gamboa em anos recentes
Obs.: Como o artigo em que se baseia este texto foi escrito e publicado no ano 2000, não estão aqui incluídas informações posteriores a essa data. Contudo, a história do Festival da Gamboa continua. Tem dados sobre este tema e quer colaborar? Envie a sua proposta de texto para contato@caboverdeamusica.online.
Referências:
[1] Rodrigues, Simão, Na Praia da Gamboa – Milhares de pessoas festejaram XXI Aniversário dos «Tubarões», Voz di Povo, 20.02.1990.
[2] Cavaco, Paula, Mini-festival com artistas na diáspora, Voz di Povo, 26.02.1991.
[3] Festival de Gamboa, O caminhar para um grande festival de música crioula, Suplemento Município, Novo Jornal Cabo Verde, 18.05.1996.
[4] No próximo ano – Festival da Gamboa poderá ter outro local, Novo Jornal Cabo Verde, 14.05.1997.
[5] Semedo, Alexandre, Fantástico, Horizonte, 20.05.1999.
[6] Reis, José António dos, Do Apocalipse anunciado… … ao encanto sublime!, Horizonte, 20.05.1999.
CURIOSIDADE – O nome do festival e da praia onde se realiza: Em português de Portugal, o significado de “gamboa” é: “Pequeno esteiro (braço de mar), que se enche com o fluxo da maré, e fica seco na vazante”, e também “Pequeno lago artificial junto ao mar, e que se enche de peixes com a preamar”, segundo o dicionário online Dicio. No Brasil, este dicionário aponta para um regionalismo de São Paulo: “Parte do rio onde a água é tão parada que parece se tratar de lago calmo”. Faz sentido, porque a água do mar na praia da Gamboa, na cidade da Praia, é mesmo assim.