Eduardo Lopes
Eduardo Lopes
Nova Sintra, BR, 1924 – Brava, [déc. 1990]
Construtor de instrumentos, instrumentista (violino)
Célebre construtor de instrumentos musicais, pouco se escreveu sobre este personagem para além do capítulo sobre a Brava no livro Cabo Verde – Notas Atlânticas (1999), do escritor e antropólogo francês Jean-Yves Loude, que conta a sua visita a Eduardo Lopes, na altura septuagenário, e já de volta à Brava, depois de dez anos na emigração. A sua história como emigrante é rara. A fama de Lopes chegou aos EUA antes dele, através do seu discípulo Ivo Pires, também um afamado construtor de instrumentos e violinista. Um dia, a trabalhar na conceituada Boston Strings Instruments, Pires desperta a admiração do patrão, Melvin Peabody, com a sua perícia e talento. Mas, diante do comentário elogioso, responde que o seu mestre é muito melhor. Peabody faz todos os esforços para que Eduardo Lopes se transfira para os EUA e é assim que, em 1981, “munido de um contrato profissional e de plenos direitos para a minha família e para mim, desembarco em Boston sem uma palavra de inglês na bagagem. Tenho 57 anos”, contou a Loude. “Os americanos são assim; acolhem-vos e reservam-vos logo a prova das provas: um violino para reparar. Não há nada mais duro. Ao pé disso, fabricar é simples!”, relata Lopes sobre a sua chegada.
“Em Boston, criei contrabaixos, guitarras flamengas, guitarras portuguesas de doze cordas. Inventei o ukulele elétrico. Conheci finalmente o ácer, o álamo, o ébano e o pau-rosa, as madeiras preciosas ou envelhecidas que enaltecem os sons”
Eduardo Lopes, em Notas Atlânticas, de Jean-Yves Loude
“Um dia, um violinista do Newton Symphony trouxe-lhe um violino de 1783, de valor incalculável, aos pedaços. Lopes devolveu-o à música. Yo-Yo Ma, estrela mundial do violoncelo, só confiava a ele a preparação do seu instrumento antes dos seus concertos no Symphony Hall de Boston”, refere um artigo do Evening Times emoldurado e pendurado na parede da sua sala de visitas, citado por Loude, que refere que Eduardo Lopes é um homem reservado, que “maneja mais facilmente a goiva que o verbo”. Mas ainda assim, contou-lhe a sua história.
Aos 15 anos, sem nunca ter ido à escola, trabalhava com o pai a aprender o ofício de marceneiro. Com uma simples faca, construiu a sua primeira guitarra e ofereceu-a. Outras vieram. Os amigos começam a vender os seus instrumentos, que vão para outras ilhas e também para fora do arquipélago. Nessa altura, a única madeira que conhece é o pinho. Além de construir instrumentos, toca violino em bailes, o que aumenta os seus rendimentos. Durante cerca de quarenta anos foi assim, até que um dia surge o convite para viajar para os EUA. “Aqui [em Cabo Verde], nunca ninguém fez nada por mim. Em Boston, criei contrabaixos, guitarras flamengas, guitarras portuguesas de doze cordas. Inventei o ukulele elétrico. Conheci finalmente o ácer, o álamo, o ébano e o pau-rosa, as madeiras preciosas ou envelhecidas que enaltecem os sons”, relatou.
Ao jornalista Luís Carvalho (Fragata, maio de 1998), Lopes contou que o seu gosto pela construção de instrumentos nasceu pelo facto de que queria aprender a tocar, mas na Brava, na sua juventude, havia poucos instrumentos musicais. “Por isso senti-me obrigado a dedicar-me ao fabrico de violino, violão e outros instrumentos acústicos”, contou, dizendo que inicialmente, abraçou a profissão “por brincadeira” .