Eduardo Jon Xalino

Eduardo Rodrigues Silva
Mindelo, S. Vicente, 1932
Instrumentista (violão), compositor, cantor
Artista pouco conhecido, Eduardo Jon Xalino provém de uma família musical com vários nomes bem divulgados, como os seus irmãos Eddy Moreno e Djuta Silva, os sobrinhos Val Xalino e Djô d’Eloy e o seu filho Calú Bana. Mas Eduardo Silva tem toda uma história a ser conhecida. Teve o mérito de ter sido, na juventude de Cesária Évora, aquele que primeiro notou a peculiaridade da sua voz, estimulando-a a cantar nas noites mindelenses, como conta no documentário Cesária, Nha Sentimento. Mais tarde emigrou para a Holanda, onde reside.
Tendo o violão como instrumento e sempre tão próximo da música, Eduardo, por algumas coincidências que não o favoreceram, teve o seu nome obscurecido. Toca no disco de Djuta e Eddy Moreno gravado em Portugal em 1954 mas o seu nome não está nos créditos. Gravou “Sodade” a cantar em dueto com Amândio Cabral num dos EP da Casa do Leão e o seu nome não consta na capa. Neste disco, aliás, segundo o próprio Eduardo, o acompanhamento é quase todo a cargo de membros do “clã” Xalino: Armando (violão), Eduardo (violão e voz) e José Silva “Zuca” (violão). A alcunha Xalino, inventada pela mãe e que passou para vários dos filhos, deve-se, segundo Eduardo relata em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens, ao facto de Nho Jon Xalino ser um grande bebedor de xalí (infusão de uma planta medicinal muito utilizada em Cabo Verde, também conhecida como belgata).
No final dos anos 1960, Eduardo acompanhou Tazinho no LP Sucessos Tazinho e este disco não traz o nome de nenhum dos músicos que participaram na gravação, e que são, além de Eduardo: Luís Morais (flauta) Frank Cavaquinho (cavaquinho) e Djunga de Biluca (chocalho).
Finalmente, Eduardo aparece no CD Nha terra nha kretchéu, com Calú Bana, editado em 2006, e em 2015 lançou o seu álbum a solo, Nunca é Tarde, com mornas e músicas brasileiras.
Tem composições gravadas por Marino Silva, Celina Cruz e Calú Bana.


Discografia
- Nha Terra nha kretchéu, CD, edição de autor, Pawtucket, 2006. Com Calú Bana.
- Nunca é tarde , CD, edição de autor, Holanda, 2015?


Colaborou na pesquisa: Francisco V. Sequeira
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Depoimento de Luiz Silva sobre Eduardo Jon Xalino
Eduardo de Nho Jom Xalino, filho de Nho Jom Xalino, maiense, e de Nha Antonia, mindelense, da rua de Moeda antes de passar pela rua de Coco onde acolheu a sua sobrinha nha Maria e mãe do Bana, é uma das grandes figuras da música mindelense. Não só iniciou o Bana como também a Cesária, sem contar outros músicos em Cabo Verde e na diáspora, para merecer a nossa admiração.
O pai, Nho Jom Xalino, era violinista e fabricava instrumentos musicais. Os irmâos e irmãs, residentes na Rua de Moeda em Mindelo, todos se dedicaram à música, embora sem o mesmo sucesso, mas destaca-se o irmão Eddy Moreno (Adolfo Silva), a irmã Djuta, que gravou as primeiras mornas na Rádio Nacional Portuguesa, os sobrinhos Djô d’Eloy, Zuca, Xanda de Biinha e irmão Val de Biinha, Nilsa Silva, cantora e empreendedora, Djô D’Eloy, Bia de Chico na América, etc. O filho Calu Bana, residente nos Estados Unidos, é sem dúvida o retrato fiel do pai, embora a distância que a emigração determinou. Calu Bana não é Bana mas sim o retrato do pai Eduardo de Nho Jom Xalino no sentir do violão e na voz.
Mas não é só o violão que caracteriza o personagem do meu primo Eduardo de Nho Jom Xalino: possui ainda o humor e a alegria dos meninos da Salina, amamentado pelo Many Estrela, esse antigo jogador do Mindelense e mestre do humor na rua de Moeda, lembrado por várias gerações de mindelenses, com estórias que precisam ser escritas e cantadas, depois Praça Estrela, lugar onde a animação cultural e o humor sarcástico do mindelense se afirmava dia a dia e transportado para a diáspora, onde a nação cabo-verdiana culturalmente se afirmou e fez nascer as lutas pela a nossa independência cultural e económica, sempre com os olhos fixos na Baía do Porto Grande.
Na Holanda, por razões económicas, não pertenceu ao Voz de Cabo Verde mas esteve presente em todas as gravações do Bana, que sem ele não teria encontrado o verdadeiro caminho na música cabo-verdiana. É dos raros testemunhos vivos sobre a evolução da música cabo-verdiana passando por Eugénio Tavares e B.Léza, Amândio Cabral, Abílio Duarte, Morgadinho, Manuel d’Novas e outros. Embora tenha permanecido na diáspora, não deixa de merecer um lugar especial na afirmação da música cabo-verdiana dispersa pelo Mundo. Sem ele não haveria nem Bana e nem Cesária Évora. (Facebook, 23.08.2024)