Bitori Nha Bibinha
Vitório Tavares
Milho Branco, S. Domingos, Santiago, 1938
Compositor, instrumentista (gaita)
Tocador de gaita e compositor, gravou pela primeira vez com mais de 60 anos, na altura em que os dois instrumentos básicos do funaná rural, o ferrinho e a gaita – por tantos anos esquecidos pelos grupos elétricos que se seguiram ao Bulimundo –, são postos em evidência pelo êxito do grupo Ferro Gaita, cujo fundador, Iduíno, aprendeu a tocar gaita justamente com Bitori.
Bitori, por sua vez, aprendeu sozinho, ainda muito jovem. Começou com a gaita de boca, e de ver as pessoas a tocarem o acordeão interessou-se, mas como não possuía um instrumento próprio, tinha que alugar um para ir treinando. Mudou-se do interior de Santiago para a Praia aos 6 anos. Nunca frequentou a escola. Aos 17 anos, decidiu emigrar para S. Tomé e Príncipe e, devido à idade, teve de arranjar uma certidão de nascimento falsa. Foi fugido, pois a mãe, se soubesse, não permitiria a aventura.
Numa roça na ilha de S. Tomé, ganhava 50 escudos por mês, a capinar, e procurava aumentar a renda cortando o cabelo de outros trabalhadores. Mais tarde passou a colher andim (ou dendê, fruto com o qual se produz o óleo de palma), trepando com cordas no alto das palmeiras. “Foi assim que consegui juntar dinheiro e comprar uma gaita, por 750 escudos”, conta (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens).
Bitori regressou a Cabo Verde no fim dos anos 1950, com 21 anos, e ficou desde então a viver na Praia. Trabalhou como pedreiro e mais tarde numa pocilga comunitária da Câmara Municipal. A gaita ajudou a criar os filhos, pois havia sempre convites para tocar aqui e acolá. Desencantado com produtores discográficos que diz pagarem uma bagatela na altura da gravação e às vezes nem isso, diz que com os discos não ganhava nada.
Como não canta, Bitori não tem um disco em nome próprio, mas aparece associado a outros artistas em várias gravações, como Chando Graciosa, Fefé di Calbicera, Bino Branco e Ginho Pitata. Participou do grupo Petural, em finais da década de 1990.
O seu primeiro álbum, com Chando, foi reeditado em 2016 pela Analog Africa, com o título Legend of Funaná – Legend of Funaná, the Forbidden Music of the Cape Verde Island, o que levou a carreira de Bitori a dar um salto, com vários convites para atuações na Europa. Antes disso, com Ginho Pitata, gravou Ka bu flam, CD editado em 2013 pela ONG austríaca Nôs ku Nhôs. Refira-se que em 2015, o músico apresentou-se na Atlantic Music Expo, na Praia, o que pode ter servido como trampolim para ativar a sua carreira. Na sequência, fez concertos na Malásia, nos EUA, na Noruega e em vários festivais na Europa, como Roskilde, na Dinamarca e Lowlands, na Holanda. Nessas digressões o seu grupo era formado por Chando Graciosa como vocalista, Danilo Tavares (no baixo), Toy Paris bateria) e Miroca Paris (percussão).
Em 2017 Bitori foi homenageado na premiação Cabo Verde Music Awards, tendo recido o prémio “Carreira”. Nesse mesmo ano, atuou no Womex, nessa edição realizado na Polónia.
Discografia
- Bitori Nha Bibinha & Chando Graciosa, CD, CDS, Roterdão, 1998. Reeditado como Legend of Funaná, the Forbidden Music of the Cape Verde Island, CD, Analog Africa, 2016.
- Baíno (integrado no grupo Petural), CD, CDS, Roterdão, 1999.
- Mas um funaná (com Chando Graciosa), CD, CDS, Roterdão, 2002.
- Ka bu flam (com Ginho Pitata), CD, Nôs ku Nhôs, Dornbirn, Áustria, 2013.
- Participação (com Fefé di Calbicera) no CD coletivo Fidjus di funaná,1998, com os temas “Mó na mama”, “Tra tchapéu” e “Só terra”.
- Participação (com Bino Branco) no CD coletivo Fidjus di funaná vol. 2 – Midjo terra, 2001.
- Participação no CD-DVD coletivo Funaná é ku nôs, 2007, com os temas “Julinha” e “Tchora pobreza”.
Composições
Cabalo; Carrera burro; Tra chapéu; Mó na mama (parceira com Fefé di Calbicera). (em atualiação)
Ver e ouvir
Para saber mais
Bitori: tireless Cabo‑Verdean funaná rebel since 1954, by Kino Sousa