Augusto Messias de Burgo
Augusto Messias de Burgo
Mindelo, São Vicente 1868 – Santos, Brasil, 1945
Instrumentista, regente de banda
Augusto Messias de Burgo, também conhecido como Maninho de Burgo, foi um personagem de destaque na música e na vida espiritual. Por um lado, foi regente de banda, por outro, foi o introdutor em Cabo Verde do Racionalismo Cristão (RC), doutrina espiritual fortemente implantada no arquipélago.
Numa pequena notícia na edição de 25.08.1934 do jornal Notícias de Cabo Verde, lê-se que este “notável maestro cabo-verdiano acaba de dedicar ao nosso ilustre poeta José Lopes da Silva, acompanhando-a de uma eloquente carta, uma partitura verdadeiramente clássica, intitulada Rapsódia dos Cantos Populares de Cabo Verde”. E prossegue: “O nosso distinto conterrâneo vive, há bastantes anos, na cidade de Santos do Brasil, mas não se tem esquecido do Torrão Hesperitano, que evoca, em sua carta, com o mais carinhoso afeto e a mais viva saudade.”
Outras informações sobre Augusto Messias de Burgo (que no Brasil aparece grafado como Burgos) encontram-se num site sobre a cidade de Santos e associam-no à Sociedade União Portuguesa. “A sua fundação data de 1913, sob o título de Sociedade Musical União Portuguesa. A sua finalidade era a esse tempo meramente recreativa, tendo organizado uma banda musical que foi uma das melhores corporações que no género possuía a nossa cidade. Viveu anos de glórias e de triunfos”, lê-se num texto do jornal A Tribuna (26.03.1944) reproduzido no site, que acrescenta: “O sr. Augusto Messias Burgos foi o primeiro maestro da banda, à qual dedicou a mais carinhosa atenção e ao serviço da qual deu o melhor da sua capacidade artística.”
Quanto à Rapsódia dos Cantos Populares de Cabo Verde, não se conseguiu saber se foi publicada ou se dela existe (ou existiu) apenas o manuscrito, mas o fato é que este documento não consta do acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro (sede do depósito legal de publicações no Brasil, que existe desde o século XIX). Bibliotecas especializadas em música e investigadores na área foram também consultados sobre este personagens, sem resultados, lê-se na obra Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens.
Segundo o blog caboverdevida.blogspot.com, ligado ao RC, em 1936 Burgo lançou o livro Música e Músicos, “sendo citado entre os maiores nomes na Galeria dos Maestros Santistas no Jornal A Tribuna, edição comemorativa do centenário de Santos, em 26 de janeiro de 1939″. O blog refere ainda que um dos seus filhos, justamente o que tinha o mesmo nome do pai e também se dedicava à música, foi considerado o “flautista nº. 1 da cidade de Santos”, e foi o fundador de um grupo denominado Jazz Cadetes Santistas.
Antes de partir para o Brasil, Burgo foi um dos membros fundadores, em 1889, da Filarmónica Artistas Mindelenses, que se propunha tocar aos domingos na praça da cidade, lê-se na tese Músicas e Danças Europeias do Século XIX em Cabo Verde: Percurso de uma Apropriação (Gláucia Nogueira, 2020).
Quanto à introdução do Racionalismo Cristão (RC) em Cabo Verde, a história é a seguinte: esta doutrina surgiu precisamente na cidade de Santos, em 1910. Burgo fazia parte de um centro espírita denominado Amor e Caridade, segundo o investigador João Vasconcelos (2007) na sua tese sobre o RC em São Vicente. O músico conseguiu que esse centro fizesse uma doação de alimentos para Cabo Verde, que em 1911 vivia uma das suas grandes crises de fome. Burgo levou o donativo para o arquipélago e também a doutrina, que acabou por se fixar fortemente nas ilhas, apesar de várias perseguições sofridas nessas primeiras décadas do século XX. Segundo o autor, Burgo teria sido, no Brasil, possivelmente o presidente do centro espírita e passado o cargo ao português Luiz de Mattos, que veio a ser considerado o fundador do RC. Vasconcelos obteve informações sobre Burgo sobretudo de fontes orais, e nada refere sobre a sua ligação com a música.