Agusto Cego

Por GN em

Augusto de Pina, em gravação.

Augusto de Pina

Bobossó, São Filipe, Fogo, 1960

Compositor, multi-instrumentista (cordas, acordeão, violino)

Compositor e multi-instrumentista, Augusto de Pina, cego desde os 13 anos devido a um problema que começara a se manifestar já aos 4, iniciou-se na música ainda criança, e o cavaquinho foi o seu primeiro instrumento. Essencialmente autodidata, teve, contudo, na Igreja do Nazareno a oportunidade de aprender a sério o violão, o que lhe permitiu acompanhar outros músicos, em bailes e festas. Havendo quase sempre violinistas, começou a se interessar pelo instrumento e, vez por outra, pedia um emprestado para ir experimentando. Por volta dos 15 anos, já o dominava. Os sopros virão já depois dos 20 anos, inicialmente com um saxofone baixo, de um vizinho, que pedia emprestado para “brincar”. Depois passou para o clarinete e, deste, para o sax alto.

Em 1993, Augusto de Pina gravou temas instrumentais para o CD Music from Cape Verde, editado na Suécia – o mesmo que traz as primeiras gravações do Simentera – em que o seu violino é matriz tanto para interpretações lancinantes das mornas “Nova aurora” e “Hora di bai” (“Morna de despedida”) como para o saltitar brejeiro das koladeras “Prigosinha” (“Cuidode pal ca lará”) e “Fim de semana”/”Santiago ê ca só Praia”. No seguimento destas gravações, apresentou-se em vários festivais – Baía das Gatas, em São Vicente; na Europa foi à Suíça (1993), França (1994), Suécia (1994) e Alemanha (1995); nos EUA atuou, também em 1995, no Smithsonian Folk Live Festival, naquele ano dedicado a Cabo Verde.

Agusto, que vai com frequência aos EUA, onde já foi homenageado pela comunidade cabo-verdiana de Massachusetts, atua raramente na ilha do Fogo. Diz que os convites não são abundantes e, sendo para tocar em restaurantes, não lhe interessam. Na sua casa em Piquinho, escreve numa máquina de braile e compõe – praticamente tudo o que gravou é da sua autoria – nos muitos instrumentos que coleciona, trazidos de cada viagem aos EUA. Os seus discos enfrentam as habituais dificuldades de distribuição das edições de autor. Mas o músico diz que vale a pena. “É um testamento, uma coisa que fica, o artista morre mas a música fica. É gratificante. E dá muito conhecimento. As pessoas que gostam do trabalho de um artista ficam sempre à espera de outro”, afirma em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens. Em 2015, recebe do Festival Sete Sóis Sete Luas o Prémio Revelação, apesar de mais de 20 anos antes ter feito o seu primeiro registo discográfico – mas é verdade que com pouquíssima divulgação em Cabo Verde.

Agusto Cego, em sua casa na ilha do Fogo, 2006. Foto: Gláucia Nogueira

Em 1998 fez gravações, na Praia, para o que seria o seu primeiro álbum a solo, que não chega a ser editado por desentendimentos com o produtor. Só dois anos mais tarde saiu Bobossó, produzido por Ramiro Mendes. Baseado nos ritmos tradicionais de Cabo Verde, em alguns temas Augusto de Pina revela a sua faceta de cantor e compositor de letras, mas é com as interpretações instrumentais que o artista confirma o lugar que ocupa – ou que deveria ocupar – na tradição instrumental cabo-verdiana, já anunciado nas gravações de 1993 mas que este disco por pouco não omite. O seu segundo álbum a solo, Borta Borta, mais uma vez traz Augusto a cantar (desta vez só a cantar, pois é Kim Alves que executa todos os instrumentos, o que é curioso, quando se sabe que o músico foguense é um exímio e polivalente instrumentista), frustrando a expectativa que a sua participação instrumental no disco Music from Cape Verde deixava no ar.

Discografia

  • Bobossó, CD, Mendes Brothers Records, Brockton, 2000.
  • Borta Borta, CD, Agus/Mar Cape Verdean Music Promotions, Boston, 2002.
  • Participação com quatro faixas em Music from Cape Verde, CD, Caprice Records, Estocolmo, 1994.

Ver e ouvir

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