Jazz Bands em Cabo Verde
Décadas de 1920-1930
Referências a jazz bands na Praia e em São Vicente aparecem nos jornais cabo-verdianos com frequência nos anos 1930. O Jazz Band Caboverdiano publica no jornal Notícias de Cabo Verde (17.05.1931) um extrato de conta que revela que já existia desde 1926. Aparentemente, estava a se reorganizar, daí a relação de receitas e despesas, pois alguns meses depois surge um pequeno anúncio no mesmo jornal a dizer que o grupo, “novamente constituído e devidamente apetrechado com todos os instrumentos necessários”, encontra-se apto a dar concertos. “Trata-se com Raimundo João Gomes” (Notícias de Cabo Verde, 17.10.1931), que é um dos subscritores do extrato de conta publicado antes.
Dois anos depois, pelo relato de uma homenagem ao poeta José Lopes realizada a 28.08.1931, no Teatro Africano, na Praia, sabe-se que o Jazz Caboverdiano atuara num “sarau músico-literário”, entre discursos e recitação de poemas, a interpretar valsas, mornas de B.Léza e Eugénio Tavares, foxtrotes e uma canção brasileira. O relato é da “Folha Literária”, redigida por Pedro Cardoso, do jornal O Eco de Cabo Verde (01.09.1933).
Para além do facto de atuar na Praia, não há nada nessas informações que evidencie que o grupo é da capital. Por outro lado, uma outra notícia de 1933 nesse mesmo jornal informa que um grupo denominado Jazz-Band Praiense animou um banquete oferecido a uma figura ilustre (O Eco de Cabo Verde, 01.05.1933). Não fica claro se é outro grupo, imprecisão do redator ou se de 1931 para 1933 o grupo mudou de nome.
Vitória Jazz
[déc. 1930 séc. XX] – [déc. 1930 séc. XX]
Uma notícia de jornal, em meados dos anos 1930, dá conta da existência de uma formação musical pertencente ao clube de futebol Vitória, na Praia.
O texto refere que por ocasião de uma ida do Club Sportivo Mindelense à Praia, entre outras atividades organizou-se, a 29 de maio de 1935, um serão musical no cine-teatro Virgínia Vitorino. “O Vitória Jazz abriu o espetáculo, executando algumas peças de música do seu repertório, sendo muito aplaudido”, refere O Eco de Cabo Verde (05.07.1935), acrescentando que alguns jogadores do Mindelense, “constituindo um explêndido grupo de músicos”, tocaram também “mornas e outras peças de música que entusiasmaram”.
Jazz Bands em São Vicente
Pelas notícias da década de 1930, aparentemente houve vários jazz bands em São Vicente nessa época. Tinham o papel de animar festas da elite local, já que aparecem sempre associados a bailes e eventos dançantes – tal como o jazz nos EUA, nos seus primórdios.
Por essas notícias não se fica a saber ao certo como eram compostos nem que instrumentos utilizavam, mas fica claro que os seus músicos, pelo menos em parte, eram os da banda municipal, já que Francisco Morais (Pitrinha), por exemplo, aparece a dirigir um deles em 1936, por ocasião de um chá dançante organizado para os oficiais de um navio alemão atracado no Porto Grande (Notícias de Cabo Verde, 15.11.1936).
Bem antes disso, em 1931, uma alusão ao “jazz-band municipal” é feita na secção “Vida Mundana” do Notícias de Cabo Verde (03.05.1931). Sob o título “Festa Elegante”, o jornal refere um “chá-tennis” em homenagem ao governador Amadeu Gomes de Figueiredo, oferecido pelo Club Mindelo no seu court da Fontinha.
“Assistência seleta, bastantes toilettes elegantes, excelente serviço de bufete e alegre música de jazz-band, ao som da qual se dançou, até depois das três horas, uma série ininterrupta de valsas, maxixes, mornas, sambas, blues, e uma quadrilha marcada com grande entrain, pelo sr. Smith Benoliel de Carvalho.”
Notícias de Cabo Verde, 01.06.1937, descrevendo um baile em São Vicente
A imprensa regista, ao longo dos anos, a presença dos jazz bands a animar eventos. Por exemplo, no Carnaval de 1933 houve um baile no Eden Park “ao som de piano, jazz-band e violinos” (Notícias de Cabo Verde, 04.02.1933) e em 1935 tem-se o “jazz band local” a tocar num chá dançante realizado no liceu Infante D. Henrique, quando passou pela ilha o Cruzeiro de Férias às Colónias, integrado por personalidades metropolitanas da época, organizado durante a exposição colonial que tivera lugar no Porto, em 1934 (Notícias de Cabo Verde, 24.08.1935).
Em 1937, um baile “ao som do alegre jazz band” denominado Trio de São Vicente foi organizado em honra do comandante Daniel Duarte Silva, que se despedia de Cabo Verde (Notícias de Cabo Verde, 01.02.1937).
E os clubes desportivos também tinham os seus grupos, pelo menos o Derby, que em 1938 organiza um baile com o seu próprio jazz band (Notícias de Cabo Verde, 01.07.1938).
Não é difícil compreender a associação entre o jazz nas suas origens e as bandas marciais ou municipais, devido à utilização por ambos, basicamente, dos instrumentos de sopro e de percussão. Em Cabo Verde e Portugal, aliás, o termo jazz durante muito tempo serviu para designar a bateria.