Da Cruz
António Lopes da Cruz
São Nicolau, 1923 – São Nicolau, 2018
Instrumentista (violino)
Da Cruz, filho do violista Zé Manel, que vivia na localidade de Hortelã, em São Nicolau, aparece em dois discos de recolhas da música tradicional cabo-verdiana. Um deles é Cabo Verde ilhas do Barlavento – Music from São Nicolau (2000) que traz vários grupos e resulta de gravações realizadas pelo investigador or João Freire, em 1980. Neste disco, Da Cruz aparece a interpretar diferentes géneros musicais, como mornas, koladeras, samba, rumba e lundu. E até mesmo um reggae (a faixa “Regui), e sobre este facto lê-se na capa do CD (o texto não aparece assinado mas supõe-se ser da autoria de João Freire): É interessante notar a radical transformação que o reggae sofreu quando mesclado com tradições musicais em São Nicolau. Em 1980, o reggae estava recém introduzido em Cabo Verde. Esta faixa documenta o quão rapidamente ritmos estrangeiros são naturalizados”.
Estas gravações são um extraordinário arquivo de composições tocadas no seu ambiente praticamente “natural”, ou “habitual”. As sessões de gravação realizaram-se numa simples sala cedida para o efeito, na vila, hoje cidade, da Ribeira Brava, sem os rigores e requintes de um estúdio de gravação; sem arranjos para adequá-las ao gosto do público; sem a figura do produtor que orienta o trabalho com o objetivo de atingir determinado objetivo estético que irá garantir que se atinjam determinados objetivos comerciais.
O outro disco em que aparece gravação de Da Cruz e o seu grupo é Cap-Vert – Un Archipel de Musiques (CD 2 – “Barlavento”), lançado em 1999 em França pela editora Ocora, com um tema, “Contradança”.
Da Cruz foi um dos últimos remanescentes dos músicos que animavam os bailes com instrumentos acústicos, que praticamente desapareceram a partir dos anos 1960, dando lugar à música dos gira-discos e à amplificação da música tocada ao vivo.