Hermínia

Por GN em

Herminia e Djinni
Hermínia em Lisboa, 1998, com o percussionista Djinni. Foto: José Santos, cedida pelo autor

Hermínia da Cruz Fortes

Mindelo, 1942 – Sal, 2010

Cantora

Caso pouco frequente entre as mulheres ligadas à música, que sempre tiveram no canto a sua área privilegiada de expressão, no caso de Hermínia as duas coisas vêm juntas: tocar e cantar. A mãe tinha um pequeno botequim, na própria casa, e com os seus petiscos atraía rapazes que iam beber um copo e tocar violão. “Minha mãe tinha três violas (violões); ela tocava, e me ensinou. Eu pedia àqueles rapazes que iam lá, ‘deixa-me cantar uma morna’, eles diziam que sim, e eu punha-me a cantar…” Além disso, é autora de uma morna, composta quando teve o seu primeiro namorado.

A mãe vinha de uma família de músicos, mas o pai não tocava. Era empregado da Shell e morreu aos 38 anos. Pouco tempo depois a irmã mais velha consegue trabalho na ilha do Sal e toda a família a acompanha. Hermínia deixa a escola e passa a fazer costuras e crochê para ajudar na economia familiar. É, aliás, com estas atividades que sempre se manteve. No Sal irá cantar acompanhada por dois grandes nomes do violão em Cabo Verde, Taninho e Luís Rendall, em hotéis e bares da ilha, onde viveu durante 28 anos e onde teve os seus dez filhos. Frank Cavaquinho e Manuel d’Novas são outros nomes importantes da música cabo-verdiana que mais tarde acompanharão Hermínia, já em São Vicente, para onde regressa em 1979, passando a viver em Ponta de Morrim, arredores de Mindelo.

Cartaz concerto em Paris [data provável, 1998] Documento digital cedido por Patrick Regnier

Das atuações informais nas noites mindelenses passa para palcos e públicos maiores e mais distantes a partir da gravação do CD Coraçon Leve, em 1998. Este trabalho teve origem numa ideia de Vasco Martins – autor das músicas e responsável pela direção artística – para a voz de Cesária Évora, que, contudo, não alinhou no projeto. E foi justamente depois de a ouvir na primeira parte de um espetáculo de Cesária em São Vicente, em 1993, que Gilbert Castro, responsável da editora Mélodie, sugeriu a Vasco Martins convidar Hermínia para gravar.

O álbum entusiasmou a crítica musical. Em França, recebeu o Choc de la musique, prémio atribuído pela renomada revista francesa Le monde de la musique. Em Portugal, foi apontado como um dos melhores discos de sempre de Cabo Verde pelo jornal Público e uma das revelações do ano no plano da world music internacional, incluído na lista dos melhores discos de 1998 neste segmento, ao lado do sucesso mundial que foi Buena Vista Social Club.

Contudo, a cantora não teve um suporte de produção e promoção que lhe permitisse fazer carreira, apesar de algumas portas abertas pelo êxito do primeiro álbum (uma digressão pela Europa em 1998 e atuação no festival Sete Sóis Sete Luas, na Itália, em 1999). Tanto é que o segundo disco, Do Sal, passou praticamente despercebido.

Antes disso, Hermínia tinha feito algumas gravações nos estúdios da rádio nacional, em São Vicente, nunca editadas comercialmente. De Coraçon leve resultou ainda a inserção de dois temas em compilações: “Força juntode” em Géoworld: L’archipel de la sodade, iniciativa da revista Geo e “Filosofia”, em Mega women, ao lado de nomes como Billie Holliday, Ella Fitzgerald, Nina Simone e Mireille Matthieu. O CD Cap vers l’enfant  traz o poema “Criança”, de Vera Duarte, lido por Hermínia sobre solo do guitarrista Cachimbo. A cantora era chamada Hermínia d’Antónia d’Sal porque a sua mãe se chamava Antónia e viviam numa localidade do Mindelo chamada Dji d’Sal. E há a coincidência de ter vivido vários anos na Ilha do Sal.

Discografia

  • Coraçon leve, CD, Mélodie, Paris, 1998.
  • Do Sal, CD, Celulloid, Paris, 2006. 
  • Participação na compilação Géoworld: L’archipel de la sodade, BMG, 2001, com o tema “Força juntode”.
  • Participação na compilação Mega women, Wagram, 2001, com “Filosofia”.

Ver e ouvir

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