Tulipa Negra                       

Por D O em

Tulipa Negra. Foto cedida por Zezé Barbosa

Grupo, 1978-1983

Anos 1970, na virada para a década seguinte, em Portugal: época de grupos cabo-verdianos que faziam sucesso em animação de bailes, como África Star, Black Power, Os Apolos, Tulipa Negra. Este último apostava forte no reggae – “Naquela altura o reggae era uma paixão, as músicas do Bob Marley, tocávamos quase todas, passávamos tardes a ouvir, nem era ensaiar», refere Zezé Barbosa, a recordar os ensaios numa cave no reduto cabo-verdiano de São Bento  (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens).

O grupo surgira no Intendente, bairro lisboeta de má fama na época, associado a espaços de prostituição. Aí vivia um dos seus fundadores, e certo dia Frank Mimita leva o produtor José Augusto, na altura a investir forte nos cabo-verdianos, para ouvir o grupo que tocava num bar nas proximidades. Passados alguns dias, foram chamados para fazer a sua primeira gravação: Joaninha namorada (1978). Temas de Bob Marley e Jimmy Cliff e composições dos membros do Tulipa Negra compõem o LP.

Nessa altura, o grupo era constituído por: Sérgio Sousa (piano, órgão), Djóca (bateria, percussão), Tony (guitarra solo, voz), Sérgio Barbosa (baixo), Jaime (guitarra ritmo), Rui Malagueta (percussão, voz) e, nos coros, Diolinda e Angelita Nichinha. “Percorremos Portugal inteiro, TV, hotéis, grandes salas… Vivíamos somente de música”, recorda Rui Malagueta, anos depois (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens), e descreve essas noites:

“Tony salpicava a sala com o reggae e eu rematava com o funaná e outros géneros. Éramos bem preparados. Tínhamos um tal entrosamento que chegávamos a criar repertório em cima do palco, algo que os músicos de agora não conseguem fazer. Éramos capazes de tocar das dez da noite às cinco da manhã somente com músicas improvisadas, sem ninguém topar”.

Rui Malagueta, sobre as noites ao som do Tulipa Negra, em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens

As recordações de Zezé Barbosa vão na mesma linha: refere espaços como a tradicional casa de danças de salão Alunos de Apolo, meetings políticos, bailes em grandes pavilhões – o grupo vivia numa roda-viva, e chegou a tocar com Manu Dibango, no Coliseu dos Recreios, e com Miriam Makeba, no Pavilhão Carlos Lopes, segundo o músico. “Quando íamos tocar fora, as pessoas faziam excursões, alugavam autocarros para nos acompanhar. Tocávamos cerca de três vezes por semana. Podíamos ter dificuldades em muita coisa, na aparelhagem, mas com pouco conseguíamos fazer render; éramos muito unidos”, recorda.

Curtição, em 1980, foi um grande êxito, segundo Armando Carrondo, outro nome pelo qual passa muita da música produzida por cabo-verdianos na época. Nesse ano o grupo faz a sua primeira digressão à Holanda e acompanha Blick Tchutchi no seu primeiro LP. Outros artistas que gravaram com acompanhamento do Tulipa Negra foram Sérgio Gomes e Alexandre Monteiro.

Entretanto, vão lançando um disco por ano. O que se segue é provavelmente Tulipa Negra Interpreta Temas de Bulimundo, sem data, mas provavelmente de 1980, já que todas as faixas são as do então recém-lançado primeiro disco do Bulimundo, Djam branku dja. Zezé Barbosa, que acabara de chegar de Cabo Verde, entra no grupo nessa altura trazendo a novidade. A princípio, não ligaram: “Só depois de o produtor ter proposto aqueles temas do Bulimundo é que o grupo começou a pegar no funaná”, informa. Depois vêm Riba Mundo, em 1981, Sumara Tempo, em 1982, e o último, N’ta Cume Mundo, em 1983.

“Uma vez, ganhámos uma taça, que desapareceu no mesmo dia. Colocaram no meio da sala e deitaram champanhe lá para dentro. As pessoas tiravam o champanhe com os seus copos, e a certa altura desapareceu… Mas não dávamos importância ao material, queríamos era fazer festa, tocávamos com muita energia no palco, vibrávamos muito. O que Tulipa Negra tinha era isso”.

Zezé Barbosa, em Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens.

Em 1983, numa digressão à Holanda, onde passou alguns meses, o grupo acaba por se desfazer na sequência de questões pessoais de Tony, voz principal e guitarra solo, e interferências externas que, segundo os antigos membros, levaram a desentendimentos entre os músicos. Os elementos do Tulipa Negra dispersam-se então: alguns vão para França, outros ficam na Holanda, outros regressam a Portugal.

Entre os nomes que passaram pelo Tulipa Negra encontram-se ainda Nuno (guitarra), que sai para o África Star, sendo substituído por Djoy; Jorge, também guitarrista, que aparecerá mais tarde no Jamm Band, nos EUA; e os bateristas Marrocos e Pachinho. Em 1984, em Roterdão, Tony lança a solo um LP intitulado Tulipa Negra. Tempos depois, adopta o nome Tony Tosh. 

Discografia

  • Joaninha Namorada, LP, Iefe Discos, Lisboa, 1978.
  • Tulipa Negra Interpreta Temas de Bulimundo, LP, AR Som Records, Lisboa, [1981]. Reedição em CD, Sons d’África, Série Sodade II, 2001.
  • Curtição, LP, Electromovel, Lisboa, 1980.
  • Riba Mundo, LP, DMC, Lisboa, 1981. Reedição em CD pela Sons d’ África, [?].
  • Sumara Tempo, LP, [?], Roterdão, 1982. Reedição em CD pela Sons d’ África, [?].
  • N’ta Cume Mundo, LP, [?], Roterdão, 1983.    

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