Mendes Carvalho

João Mendes de Carvalho

Pedra Badejo, Santiago, 1906 – Lisboa, Portugal, 1987

Multiinstrumentista, compositor

Compositor com poucas obras conhecidas, Mendes Carvalho foi músico da Banda Municipal da Praia. Contudo, a sua profissão era a enfermagem, e a exercê-la percorreu várias ilhas – Santo Antão, São Vicente, Boa Vista, Fogo e Brava. Nesta última, onde viveu vários anos e se casou, depois de passar algum tempo emigrado nos EUA, era grande o seu prestígio, nesses tempos em que os enfermeiros cobriam a carência de médicos no arquipélago. Na sua despedida, foi homenageado pelo município e compôs uma morna em homenagem à ilha.

A imprensa nos anos 1930 dá conta das atividades de Mendes Carvalho nas duas vertentes: como músico e como profissional da saúde. Em 1930, Félix Monteiro organizou no Clube Castilho, em São Vicente, uma festa em benefício do jornal A Mocidade Africana, editado em Portugal, e é o próprio jornal (01.07.1930) que traz a informação de que nessa festa a banda municipal, “superiormente regida pelo músico Sr. Santos Coutinho (…) nesse dia se apresentou sob a direção do Sr. Mendes Carvalho”. Nesse mesmo jornal, um artigo assinado por Mendes Carvalho (A Mocidade Africana, janeiro 1932) sobre a lepra em Cabo Verde defende o isolamento dos doentes na ilha de Santa Luzia, opinando contra a criação de uma leprosaria em Santo Antão. Tal posição veio a ser duramente combatida nas edições seguintes – por ser considerada desumana – por outros colaboradores do jornal. Justifica-se a tomada de posição de Carvalho num assunto ligado à saúde pela profissão que exercia. Uma outra colaboração sua aparece no primeiro número de Alma Nova (30.03.1933), quinzenário do liceu Infante D. Henrique, em que o colaborador (da 5ª classe) assina um texto intitulado “Incitamento”, exortando os colegas a participar no jornal e defendendo a reorganização da Associação Escolar, na altura desmantelada. A publicação vem inserida na edição de 02.04.1933 do Notícias de Cabo Verde.

No fim da sua vida, Mendes Carvalho transferiu-se para Portugal. A autoria das suas composições é controversa, os dados apresentados em capas de discos não coincidem com o que dizem os que o conheceram de perto. Por exemplo, a composição “Belga” aparece em seu nome em duas gravações desta música por Cesária Évora, mas é atribuída por Djick Oliveira a Djedjinho (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens). Só “Tiche” (alcunha de Beatriz, composta quando se encontrava nos EUA e cuja letra fala do amor pela mulher com quem veio a se casar) é confirmada por Beatriz Silva (Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens), que revela que o compositor produziu muitas músicas, que ficaram registadas num caderno. Como instrumentista, terá tocado saxofone na banda, mas também dominava o violão, violino e bandolim. 

Composições

Belga (?); Depois de céu tem céu; Tiche. 

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