Abílio Duarte
Abílio Augusto Monteiro Duarte
Praia, Santiago, 1931 – Lisboa, 1996
Compositor
Combatente pela independência da Guiné e Cabo Verde, foi dos primeiros militantes do PAIGC desde a sua fundação, em 1956. Sua vocação para as artes manifestou-se na poesia, na composição de mornas e cantos de teor revolucionário e ainda nas artes plásticas. A capa do último número da revista Claridade (1960) e as dos LP Música cabo-verdiana – Protesto e luta e Poesia cabo-verdiana – Protesto e luta (ambos da responsabilidade dos Serviços Culturais do PAIGC e editados no início da década de 1970) trazem reproduções de gravuras da sua autoria. Chegou a matricular-se em Belas Artes numa universidade francesa, no início dos aos 1960, mas a militância política o obrigava a constantes deslocações. Passa dois anos na ex-RDA como estudante de Direito, curso que também não chega a concluir.
As suas primeiras mornas, “Caminho de São Tomé “e “Areia di Salamansa”, datam de 1959. São compostas em São Vicente, onde se encontrava com a missão de mobilizar a juventude para a luta de libertação, após os anos passados na Guiné-Bissau – onde fora funcionário do Banco Nacional Ultramarino e sindicalista, época em que estabelece contacto com Amílcar Cabral e os fundadores do PAIGC. São de 1960 “Traidora”, “Es mundo e assim” e”Strela di nha peto”. “Emigrante” (que acabou intitulada, por terceiros, como “Grito d’povo”, título com que aparece em várias gravações) é de 1964, ano do nascimento do seu primeiro filho e em que compõe também uma canção de ninar que permanece inédita, “Balduquinha” (Cabo Verde & a Música Dicionário de Personagens). “Guerrilher” é de 1972, criada numa região libertada da Guiné-Bissau durante a luta armada.
Abílio Duarte teve colaboração dispersa na imprensa e foi incluído na coletânea O canto armado – Antologia temática de poesia africana – 2 (org. Mário de Andrade), com as “marchas guerrilheiras” “Venceremos” e “As nossas bandeiras”, em português, e “Guerra Mendes”, em cabo-verdiano, esta em homenagem ao combatente com este nome, morto em 1965. Em Renunciando Pasárgada (org. Francisco Fragoso), aparecem as mornas “Camin de São Tomé” e “Grito d’povo” e a já citada “Venceremos”.
Abílio Duarte foi o primeiro presidente do parlamento cabo-verdiano, criado a 30 de junho de 1975, e nessa qualidade coube-lhe, cinco dias depois, proclamar solenemente a independência da até então colónia portuguesa. Ocupou esse cargo até 1990, acumulando-o, nos primeiros cinco anos do recém-nascido país, com o de ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1991, pouco tempo depois da derrota do PAICV nas primeiras eleições multipartidárias, incompatibiliza-se com a direção do partido por razões ligadas ao funcionamento dos seus órgãos, e demite-se da Comissão Política e do Conselho Nacional, permanecendo simplesmente como deputado.
Num dos vários artigos publicados na imprensa cabo-verdiana após o seu falecimento, José Vicente Lopes dá conta, em A Semana (26.08.1996), do seu papel de incentivador dos jovens talentos musicais, entre os quais Zeca Couto (com quem terá insistido para que fosse estudar música na universidade) e Katchás, na altura em que este inicia o seu trabalho de estilização do funaná. Outro jovem talento com quem interagiu musicalmente foi Djinho Barbosa, com quem compôs a sua última música, uma koladera, instrumental, “aproveitando o instrumento que melhor manipulava – o assobio”. Barbosa dedicou-lhe, no seu álbum Trás di son, uma morna: “Um zibiu pa Abílio Duarte”.
Composições
Areia de Salamansa; Caminho de São Tomé; Emigrante (Grito d’povo); Es mundo e assim (Es mundo); Strela di Nha Peto; Traidora; Guerrilher.
Ver e ouvir
Homenagem de Djinho Barbosa a Abílio Duarte: