Quando visitou Cabo Verde, Charles Darwin presenciou o batuku em São Domingos, na ilha de Santiago:
“Aconteceu ser um grande dia de festa, e a aldeia estava cheia de gente. No nosso retorno, passámos por um grupo de cerca de vinte jovens negras, vestidas com excelente gosto, a pele negra e o linho branco como a neve realçados por lenços coloridos e amplos xales. Assim que nos aproximámos, elas subitamente viraram e, cobrindo o caminho com seus xales, cantaram com grande energia uma canção selvagem, marcando o ritmo a bater com as mãos nas pernas. Atirámos-lhes alguns vinténs, o que foi recebido com grandes risadas…”.
Início da Imprensa em Cabo Verde, com a publicação do primeiro Boletim Oficial, na Boavista, onde na época ficava sediado o Governo. Além de assuntos oficiais, o Boletim incluía notícias, crónicas e anúncios.
Uma Pastoral do Bispo de Cabo Verde Dom João Henrique Moniz, de 29 de Abril de 1847, proíbe a participação de membros de grupos de tabankas nas festividades do dia da Santa Cruz, 3 de Maio:
“(…) mas prohibimos absolutamente com pena de Excomunhão, que appareçam nos mesmos Templos figuras mascaradas, ou em trajes immundos, e irrisórios para assistirem nesta solenidade aos Officios Divinos (…)”
Possivelmente a mais antiga referência à palavra “morna” publicada na imprensa. Na revista portuguesa A Época, José Maria de Sousa Monteiro escreve:
“Além dos batuques e mornas (saráos), com que os habitantes das Ilhas matam o tempo, e distraem a fome, ou celebram algum acontecimento notável, ou o dia de algum Santo da sua devoção, tem cada anno uma festa geral no archipelago, e é a de Santa Cruz, que principalmente pertence aos escravos.”
Publicada a primeira edição de O Escravo, de José Evaristo de Almeida. Uma sessão de batuku é descrita nessa obra.
“Forma-se a roda: trinta ou mais bocas femininas se abrem e dão liberdade às vozes, que elas possuem de uma extensão a causar inveja ao mais abalizado barítono (…) Em quanto que uma das mãos caía com regularidade – extraindo do pano sons compassados e secos, a outra fazia ouvir um tremido, uma espécie de rufo, que é onde está toda a delicadeza do xabeta. (…) Este alarido convida uma delas a saltar para o meio do círculo…”
Elevação da Vila da Praia à categoria de cidade. A 29 de Abril.
Nascimento do cónego António Manuel da Costa Teixeira, criador do Almanach Luso-Africano, onde foram publicadas partituras de músicas cabo-verdianas. O Almanach teve duas edições: 1895 e 1899. Entre outras atividades culturais, o cónego Teixeira traduziu Camões para a língua cabo-verdiana.
Proibição do batuku: o administrador do Concelho da Praia, José Gabriel Cordeiro, proíbe as sessões de batuku em “toda a área da cidade” e, tal como no documento do século anterior, determina a prisão de quem desobedecer.
“(…) sendo os denominados batuques um divertimento que se opõe à civilização actual do século, por altamente inconveniente e incómodo, ofensivo da boa moral, ordem e tranquilidade pública”. E os seus participantes são igualmente referenciados como “povo menos civilizado”.
Fundação do seminário-liceu de São Nicolau.
Nascimento de Eugénio Tavares, a 18 de outubro, data que atualmente é celebrada em Cabo Verde como o Dia Nacional da Cultura.
É inaugurado a 1 de janeiro, na cidade da Praia, o Teatro Africano, onde ao longo dos anos se realizaram espetáculos, bailes e saraus (ocupava o local do atual cine-teatro da Praia). Em simultâneo com o Teatro Africano, existiu durante algum tempo o Teatro D. Maria Pia de Saboia.
Abolição da escravatura em Cabo Verde.
Nascimento do poeta e jornalista Pedro Cardoso, na ilha do Fogo, a 14 de setembro.
Com o título Músicas Populares de Cabo Verde, a Sociedade de Geografia de Lisboa publica partituras de músicas cabo-verdianas.
Publicação do livro do naturalista e etnógrafo austríaco Cornelio Doelter y Cisterich com descrição do batuku, que presenciara tempos antes na sua viagem a Cabo Verde.
“Na ilha de Santiago, por exemplo, a dança mais popular é o batuko, uma dança reminiscente das danças africanas encontradas entre os papeis, mandingas, etc. O batuko consiste num grande círculo formado pelos participantes. Ao som de fortes gritos, um homem e uma mulher emergem do meio do círculo, a dançar em contorções selvagens, que são acompanhadas por gestos tão extremos que dificilmente poderiam ser descritos com palavras…”
Nascimento, na ilha do Fogo, de Augusto Abreu, que mais tarde, nos EUA, será um pioneiro nas gravações de discos por cabo-verdianos, com o seu grupo Abrew’s (Portuguese) Instrumental Trio.
Publicação do primeiro volume do Almanach Luso-Africano, que traz seis partituras de música, algumas com letras.
Nascimento do violonista Luís Rendall, a 28 de fevereiro.
Dirigida pelo jornalista Luís Loff Vasconcelos, a Revista de Cabo Verde foi uma importante fonte de dados sobre a virada do século no arquipélago e consistiu em 17 edições ao longo de 1899.