Bombena

Por GN em

Por Gláucia Nogueira

Camponeses no trabalho agrícola. Fonte: noskulturacv.blogspot.com

A bombena (canto de trabalho dos mondadores) apresentada no livro Cantigas de Trabalho foi recolhida na ilha Brava. Nesta ilha, faz-se a sementeira no terreno seco, mas não se canta, talvez devido ao pó que levanta durante a intervenção no solo. Assim, é no momento da monda, quando o chão está molhado, que se ouve a bombena.

Oswaldo Osório chama a atenção para a grande semelhança que existe entre estas cantigas e o cola boi, pelo sentimento nostálgico que emana nos dois casos, e também no ritmo, na estrutura e na forma.

Am­bos são “cantos aíados”, expressão utilizada por Augusto Casimiro (militar português deportado para Cabo Verde na década de 1930, que produziu vários textos etnográficos sobre as ilhas que percorreu) para descrevê-las. “Gritos aíados, prolongados (…) pare­cem soltar-se do chão verde, a interrogar ou embalar o mundo, a acusar ou a lamentar um destino”. Seriam “gritos de alegria, música primitiva, a temperar o es­forço das enxadas, bombeando arcaboiço de cavadores?” Ou, por outro lado, “o ancestral, amargurado grito do homem escravo e rebelde, resignado logo na sua escravidão?”

O próprio Casimiro propõe como resposta:

“… Canto que dilata o arcaboiço e suaviza o trabalho, a animar o braço, a prolongar a alma no rude verso, na mú­sica primitiva (…) Ou, talvez, a desafiar esta longa escravidão que é a vi­da, a apostrofar, do alto dos calvários, a injustiça de hoje, pressentindo o amanhã…”.

Augusto Casimiro, em Portugal Crioulo, 1940.

A bombena tem letras em geral nostálgicas, com temas como a saudade, o amor, a despedida. Contudo, como refere Oswaldo Osório, por vezes assume uma forma de emulação no traba­lho, com os rafoju (improvisos com remoques e gracejos) com que se desafiam os companheiros do campo vizinho, “tornando-se então satíricas e chalaceosas”. O objetivo é, pelo incremento no ritmo de trabalho, conse­guir do dono da terra a oferta de uma garrafa de aguardente ou alimentos ou até mesmo uma gratificação em dinheiro. “Findo o trabalho, há sempre um ofendido do campo contrário, o que origina algumas vezes contendas entre eles”, afirma o autor.


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