Violinistas cabo-verdianos

Por GN em

Os violinistas, ou tocadores de rabeca, como populamente são chamados, têm um espaço muito especial no panorama musical cabo-verdiano. No passado, eram eles os solistas na animação dos bailes, nos tempos em que esta atividade não contava com a ajuda da energia elétrica e dos equipamentos de amplificação do som.

Tocavam ao longo da noite durante horas, para animar os pares nos salões, improvisando e interpretando aquelas músicas que, hoje consideradas tradicionais, eram as novidades que acabavam de chegar a Cabo Verde.

Instrumento de origem europeia introduzido em Cabo Verde no século XIX, provavelmente, carregava no seu bojo, nas suas cordas e no seu arco todo um conjunto de músicas em voga internacionalmente naquela época, como polcas, valsas, mazurcas, galopes, schottisches. Assim, foi através dos músicos que as interpretavam que muitas dessas músicas penetraram no contexto cultural das ilhas, cabo-verdianizadas pelo toque – ou a mãozada, como se costuma dizer – dos tocadores de rabeca.     

No seu artigo sobre o violino em Cabo Verde, o investigador Luiz Moretto afirma que, tendo em conta diferentes tradições violinísticas ao redor do mundo – como a do jazz; a do bluegrass; a irlandesa; a cigana, no Leste da Europa; a da música carnática indiana – o violino cabo-verdiano “é uma entidade própria, a escola de violino africana”. Para este autor, num texto intitulado “Ritmos da Diáspora: o Violino como Tradição em Cabo Verde”, esta tradição “foi criada como resistência e ao mesmo tempo interação do músico africano com o europeu. O instrumento de luteria europeia é tocado pelo cabo-verdiano com seus ritmos próprios e sonoridade singular”.

Moretto chama a atenção para o facto de, diferentemente das outras tradições de cordofones tocados com arco – citando como exemplo os do Mali, Níger e Moçambique e também as rabecas[1] no Brasil – os violinistas cabo-verdianos tocam o instrumento de luteria europeia, os modelos que evoluíram do período barroco para o romântico. Por outro lado, “os elementos técnicos da música tocada nesta tradição como o ritmo sincopado, as formas harmónicas, o timbre e a estética local” são aspetos “importantes para compreendermos o que e como se configurou essa singularidade musical”.

Instrumento exigente, em geral os músicos, no seu aprendizado doméstico, entre amigos ou mesmo totalmente autodidata, na maior parte das vezes começam por outros instrumentos de cordas, como o violão ou o cavaquinho, e só aqueles que atingem um bom desenvolvimento nestas primeiras etapas passam para o violino.   

Muitos dos músicos do passado ficaram anónimos, mas aqueles cujos nomes e cuja notoriedade chegaram até os nossos dias têm os seus perfis neste projeto. Nesta página procura-se dar realce àqueles que vêm ao longo do tempo construindo a tradição violinística cabo-verdiana.

Santo Antão: Nho Kzik , Malaquias Costa, Mochim de Monte, Travadinha

Fogo: Joaquim Bangaínha, Linkin, Djom di Robeca, Nho Djonzinho Alves, Nho Djonzinho Montrond, Nho Nani, Nho Raul de Ribeira da Barca, Rabolo, Breka.

São Nicolau: Da Cruz; Mané Pchei; Santos Vieira: Miguel Nibia

Brava: Djedjinho, Djicai, Ivo Pires; Nho Raul de Pina

São Vicente: Bau 

Boa Vista: João Severo, Isidro Lima, Noel Fortes

[1] Recorde-se que a designação rabeca em Cabo Verde é simplesmente a forma popular de se referir ao violino, não se tratando, como acontece no Brasil, de um instrumento diferente do da luteria europeia, como aponta Moretto no seu texto.

Referências:

Moretto, Luiz. Ritmos da Diáspora: o Violino como Tradição em Cabo Verde. Em Anais do XXVII Simpósio Nacional de História. Natal, RN, 2013.

Nogueira, Gláucia Músicas e danças europeias do Século XIX em Cabo Verde. Percurso de uma apropriação. Tese de doutoramento. Universidade de Coimbra, 2020.

Nogueira, Gláucia. Os violinistas de Cabo Verde e seu papel na conversão de músicas europeias do século XIX em tradição local. Música Popular em Revista, v. 7, 2020.

Visite também a secção Instrumentos Musicais, em que o violino está entre outros cordofones.

Esta é uma

Pouco a pouco, mais nomes virão a fazer parte dela.

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