Henrique, Nho

Por GN em

Nho Henrique e Nha Bibinha. Foto de Leão Lopes, reproduzida do livro Ña Bibinha Kabral – Bida y obra

Henrique Tavares

Tarrafal, Santiago, 1905 – Tarrafal, Santiago, 1993

Instrumentista (sinboa)

“Nho Henrique há muito que pendurou a sinboa num canto. Os jovens não lhe querem seguir as peugadas como ele fizera em relação a seu tio, Nho Miguel Tavares, pessoa a quem ele acompanhava para todo o lado, quando era convidado para animar a noite nas festas de casamento ou de batizado. Quem herdará a sinboa de Nho Henrique?” A questão está num artigo publicado em 1989 no jornal Voz di Povo (02.09.1989).

Nessa altura, o músico já raramente tocava. “Isso só acontece quando alguém interessado na recolha das nossas tradições o visita no intuito de lhe fazer o último registo, coisa que o desgosta um pouco. Mas ele, velho e alquebrado, não se faz rogado (…) Começa por limpar o pó, pega dum pedaço de breu com o qual besunta a corda – normalmente rabo de cavalo – que, friccionado numa outra corda de borracha [segundo outras descrições, a corda do arco é de crina de cavalo], provoca um som abafado cuja tonalidade varia ligeiramente com a movimentação dos dedos na cabeça do instrumento”, lê-se no texto.

Presente em muitos países da África, a sinboa (ou cimbó, ou cimboa – ver a página sobre os instrumentos de corda) é uma espécie de violino de uma só corda, com caixa de ressonância construída com uma cabaça (ou coco) e pele de cabra, tocado com um arco. O antropólogo João Lopes Filho, na sua obra Cabo Verde – Apontamentos Etnográficos (1976), indica a sua presença, no passado, em outras ilhas além de Santiago, mas foi nesta que resistiu mais tempo, embora considerada pelo autor, já naquela época, “quase uma peça de museu”.

O Centro Nacional de Artesanato, em São Vicente (atual CNAD), durante anos o único núcleo museológico de Cabo Verde, possui no seu acervo uma das últimas sinboas de Nho Henrique. O músico costumava acompanhar Nha Bibinha Cabral nas rodas de batuku e finason em festas no Tarrafal e, em 1980, atuaram no cineteatro da Praia. Mas possivelmente passaram despercebidos – não há referência a eles nos artigos sobre os espetáculos que assinalaram os cinco anos da independência –, numa altura em que a música tradicional estava na ordem do dia, mas a atração era o funaná, na versão urbana do Bulimundo.

O artigo no Voz di Povo foi o único sobre este personagem encontrado nas pesquisas nos periódicos cabo-verdianos para a produção de Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens. Contudo, o livro Ña Bibinha Kabral – Bida y obra (de Tomé Varela da Silva, 1989) traz uma entrevista com Nho Henrique, pela qual se fica a saber que esteve duas vezes em São Tomé e Príncipe, num total de oito anos, a primeira vez a partir de 1954, a segunda não foi capaz de se recordar (era já octogenário na altura da entrevista). Durante muitos anos foi varredor de rua no Tarrafal, trabalho que deixou devido a doença e à idade.

Em 1990, Nho Henrique fez uma gravação que se encontra no CD Iles du Cap Vert – Les Racines, resultado de recolhas realizadas por Manuel Gomes.

Discografia

  • Solo de sinboa em Iles du Cap-Vert – Les racines, Sunset, Paris, 1990.

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