Frank Mimita
Francisco Nunes de Pina
Praia, Santiago, 1943 – Roterdão, Holanda, 1980
Cantor, compositor e instrumentista
Frank Mimita grava todos os seus álbuns durante a década de 1970, período em que viveu na Holanda depois de alguns anos passados em Portugal, quando acompanhava, ao cavaquinho, músicos como Luís Rendall, Marino Silva e Taninho,em bailes e gravações. Toca no disco Travessa de peixeira, que tem Taninho como solista, e em Cabo Verde e o seu grande compositor Luís Rendall. Com Marino Silva participou de programas na rádio e na TV portuguesa e com Armando Tito e Dany Silva acompanhou Bana durante algum tempo.
Nos seus LP – tem também vários singles editados – além de temas da sua própria autoria, grava várias composições de Ano Nobo, que o considerava o principal divulgador da sua obra. A convivência de ambos vem da juventude, passada na Achada Santo António, na Praia, entre finais dos anos 1950 e meados da década seguinte.
Frank Mimita emigra para Lisboa por volta de 1966, numa das várias levas de trabalhadores contratados em Cabo Verde para suprir a mão-de-obra escassa em Portugal. Vai como varredor para a Câmara Municipal de Lisboa, mas a experiência como marceneiro – adquirida com o pai – permite-lhe passar a exercer esta profissão. Nesse período, joga futebol durante algum tempo numa equipa da segunda divisão portuguesa, na Cova da Piedade, outra experiência que leva da Praia natal, onde jogara nos Travadores, segundo o relato do seu amigo Djudja (Artiletra, Dez. 2004/Jan. 2005), a quem dedicou o tema “Tudo cúsa é Djudja”, título de um dos seus LP.
Para Manuel Tavares, autor de Aspectos evolutivos da música cabo-verdiana, Mimita abriu caminho para a reabilitação e exploração de géneros musicais “até então banidos do convívio social, desencadeando assim uma investigação rumo às origens”, sendo nesse sentido um pioneiro, escreveu no blog Lantuna, referindo-se aos temas “Batuque” e “Tabanca di Tchada Santantoni”, ambos no LP Nha Guran di Mundo.
Neste mesmo texto, o autor destaca o facto de Frank Mimita ter sido o primeiro a gravar uma música cantada em crioulo de Santo Antão, a mazurca “Bingala d’po”, em Hora já tchegá, “pontapé de saída que viria, décadas mais tarde, a ser seguido pelo grupo Cordas do Sol”. Tal facto surpreendeu na altura, refere Tavares, pela sua performance nessa variante linguística sem nunca ter estado naquela ilha. Refira-se, no mesmo álbum, o talaia baxu, “Uai Uai”, numa época em que praticamente só mornas e koladeras tinham espaço nos repertórios gravados, e no LP Ja nô tem traboi na nos terra, a cantiga popular “Príncipe de Ximento”, da ilha do Fogo.
Frank Mimita teve um tumor cerebral, e morreu ao ser operado, na Holanda, onde ficou sepultado. Meses antes tinha estado em Cabo Verde, onde segundo o mesmo texto de Tavares, compusera grande parte das músicas que aparecem no seu último álbum, Tudu cusa é Djudja, e outras que deveriam constar de um disco que acabou destruído por um curto-circuito, já após o seu falecimento.
Discografia
- Frank Mimita canta Cabo Verde, LP Imavox, Lisboa, [1973]. Com a orquestra de Joaquim Luís Gomes.
- Pilon eléctrico, EP Imavox, Lisboa, 1973.
- Hora já tchegá, LP, MR, Roterdão, 1974. Com o conjunto de Frank Cavaquinho e Jon Spedinha.
- Forti trabadja pa alguém, LP, Electromovel, Lisboa, 1976.
- Ja nô tem traboi na nos terra, LP, Do-La-Si, Lisboa, 1977. Com acompanhamento do África Star. Reedição em CD
na série “Sodade” da Sons d’África. - Tudo cúsa é Djudja, LP, Iefe Discos, Lisboa, 1979.
- Nha Guran di mundo, LP Electromovel, Lisboa, [?]. Reedição África Sons, Série sodade II.
- Mornas e coladeiras, EP, Alvorada, [?].
- Participação na compilação Lisboa nos cantares cabo-verdianos, 2001, com o tema “Um ti ta bai pa Lisboa”.
- Participação na compilação Cabo Verde canta a CPLP, 2002, com o tema “Príncipe de Ximento”.
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